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Nem sempre é através da agressão física ou de ofensas que o racismo aparece. No dia a dia das pessoas negras, ele surge em momentos sutis, de forma disfarçada. São detalhes, situações tão discretas, que a maioria das pessoas brancas nem percebe. Mas que são fortes o suficiente para fazer mal e aumentar a exclusão dos negros. Às vezes, mesmo sendo contra o racismo, você pode estar cometendo atos racistas sem perceber.

Mulheres negras contam quais são as formas de racismos sutis mais comuns em suas vidas, que costumam vir de gente que nem imagina que está fazendo algo ruim e que elas gostariam que mudassem.

01. Encarar sem parar

Se a presença de uma pessoa negra chama sua atenção, isso só indica o quanto faltam negros ao seu redor, né? A doutoranda Cinthia Leone, 33, odeia quando alguém fica olhando sem parar para ela. "Eu estava em um restaurante francês em São Paulo e uma senhora simplesmente não parava de me encarar. Eu era a única pessoa negra do restaurante, incluindo os funcionários. Esse é o tipo de situação desagradável que não se pode provar, mas que todo mundo sabe que está acontecendo".

02. Ficar com medo de roubo

Já atravessou a rua ou segurou a bolsa com força ao ver uma pessoa negra se aproximando? Mais de uma das entrevistadas reclamou da sensação que têm de que as pessoas ficam de olho nelas, como se tivessem medo de que fossem roubar algo. A atriz Mariana França, dá um exemplo: "Quando estava me formando na oitava série, minha mãe me deu dinheiro para comprar o vestido da festa de formatura. Na loja, percebi que a vendedora começou a me seguir. Até que perguntei porque só eu estava sendo seguida e ela disse que era uma orientação da gerência da loja".

03. Tocar e ficar falando do cabelo o tempo todo

"Amigos brancos: parem de tocar nosso cabelo para ver se é macio ou se não espeta. Ninguém faz isso com as mulheres lisas, né?', Marli Rosa, 55, professora de inglês. O cabelo da mulher negra é uma escolha dela: alisado, black power, com tranças, não importa, não deveria ser sempre assunto dos outros. "Me incomoda os amigos que ficam falando do meu cabelo. Falam que quando estou com trança fica mais bonito, porque parece cabelo liso. Ou me enchem de questões: dá para lavar? Quando tira tem que raspar?", diz Nathália Barbosa, 23, jornalista. A publicitária Camila Prado, 30, lembra de uma situação ligada a isso: "Já fiz entrevista onde era questionada se poderia escovar o meu cabelo".

04. Deduzir que a pessoa é pobre ou simples

"Fui dar aulas em um condomínio de apartamentos e, após me identificar, o porteiro perguntou se eu estava com a chave. Fiquei sem entender, ele repetiu a pergunta e eu disse: 'não sou a faxineira, sou a professora'. Morei em um condomínio de classe alta e frequentemente era confundida com serviçal, se eu não estivesse com roupa de “madame”, Marli Rosa, 55, professora de inglês.

05. Achar que é arrogante quando não é subserviente  

"Por ser negra, bem resolvida e educada, as pessoas me rotulam como metida e antipática, mesmo sem que eu abra a boca. Obviamente, se você é negra e não está na condição de serviçal, incomoda", Marli Rosa, 55, professora de inglês.

06. Dizer que ela não é negra

Para Nathália Barbosa, uma das coisas que mais incomoda é quando alguém diz: "mas você não é negra, você é morena clara". Como se ser negra fosse um problema, uma categoria na qual os amigos não querem coloca-la. Camila Prado também já ouviu isso várias vezes. "Apesar do meu tom de pele, cabelo black power e lábios grossos, algumas pessoas já disseram 'nossa, mas nunca percebi que você é negra. Você não é tão 'escura'. Ué, será que é o meu espelho que está com problemas?".

07. Esquecer que cotas são uma reposta à desigualdade

Quando o assunto são as cotas, as entrevistadas relatam sempre ouvir falar do assunto como se fosse sinal de menor capacidade das pessoas negras. Cinthia Leone contou que em seu primeiro emprego, uma colega só dizia que ela só podia estar na universidade pública se fosse por cotas, como se fosse menos capaz que os demais. Já Nathália Barbosa, ouve algo diferente, mas que traz o mesmo subentendido: "amigos dizem que eu só entrei na faculdade porque sou inteligente e não porque tive acesso às cotas. Mal sabem eles que se não fossem elas, não ia adiantar ser inteligente".

Por: Vida Diária/UOL.

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