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Fico me perguntando onde está o problema quando vemos o caso daquela mulher Tatiane que foi morta por seu marido. Será realmente um caso de feminicídio? Será que o marido a matou só porque ela é mulher? Será que ela, enquanto uma vítima por ter sido morta, deixa de ser responsável por suas escolhas se permitindo ficar em uma relação infeliz e abusiva? O que faz com que algumas mulheres se submetam a ficarem ao lado de alguém que não as trata bem e outras não? Onde está realmente a resposta? No medo da solidão? Na crença de que “ruim com ele pior sem ele”? Na ideia de que não consigo viver sem ele?

Mas como assim, não consigo viver sem ele? Quando foi que nascemos atrelados aos nossos parceiros? Onde foi que construímos crenças de que sós não damos conta de sobreviver? Por que ainda permitir que essa cultura machista se apodere do raciocínio feminino da forma que ainda acontece?

Existe um mito que se origina desta cultura machista e que vivenciamos em nosso dia a dia sem percebermos - o mito da atração sexual imediata. Quantas vezes, em um ambiente social qualquer como em um restaurante, ou em uma balada, ou uma boate - como no meu tempo, nos deparamos com uma sensação instantânea de uma atração sexual por alguém em que toda uma estória de amor é mentalmente contada, como se aquela atração fosse um sinal de que acabamos de achar o amor de nossa vida e que, com ele, vamos ser felizes. Obviamente é uma pessoa linda, sarada fisicamente. Seus pensamentos e sentimentos estão certos de que esta pessoa é a que você sempre esperou encontrar.

Vocês se conhecem e toda sua forma de raciocinar está sendo alimentada por aquela ideia inicial e não há nada e nem ninguém que faça você mudar isso. Essa imagem vai sendo construída e fortalecida e filtrada por tudo e todas as circunstâncias. Ainda que você vislumbre que talvez ele tenha sido meio ríspido aquele dia na festa ou depois que voltaram dela. Seus pensamentos tratam de contar uma história de que talvez ele tivesse cansado naquele dia e por isso falou aquilo pra você. Mas você o ama tanto, ele é tão lindo e tudo foi tão incrível no começo que você nem imagina ficar sem ele.

Os anos vão passando e cada vez mais você se depara com situações difíceis, mas que de alguma forma brotam justificativas e até pedidos de desculpas que vão botando pano quente onde deveria ser questionado e repudiado. Mas como faço pra viver sem ele? Aí as memórias do passado lindo voltam e seu coração continua fingindo que está tudo bem e que tudo vai passar. Afinal, ele me ama e este é apenas o jeito meio descontrolado de amar que ele tem. Vocês fazem amor em que ele vibra, embora você não, mas tá tudo bem…

Afinal, onde está o problema desta relação? O homem está errado por se manter em sua inconsciência incompetente com relação ao que ele precisa mudar para se tornar uma pessoa melhor e a mulher sofre também não porque não saiba que precisa se livrar desta relação doentia,  mas por não ter o amor próprio e sua autonomia desenvolvidas e não se deixar levar por isso.

Provavelmente trata-se de uma mulher insegura e instável emocionalmente que não se desenvolve internamente, não busca por um significado enquanto um ser único e capaz de amar, antes de tudo, a si própria. É por isso que se fala tanto em empoderamento feminino. Não se trata de sermos iguais ou melhores que os homens. Trata-se de sermos boas pra nós mesmos, de desenvolvermos nossa autoaceitação, nossa capacidade de se autoprover. Trata-se de encontrarmos nossa voz interior, nos conscientizarmos sobre nossos valores, sobre estabelecermos o que nós esperamos e queremos de um relacionamento afetivo e fazer valer esta vontade. Trata-se de termos autonomia e confiança em fazer boas escolhas, em colocar pessoas na nossa vida que vão despertar em nós o que temos de m elhor e assim crescermos juntos, somando, acrescentando coisas boas em nossa alma e em nossa vida.

O que falo acontece em diversos níveis sob vários aspectos desde aquele relacionamento que vai, paulatinamente, ficando mais e mais abusivo até aos relacionamentos que não são abusivos, mas que de uma forma ou de outra nos submetemos para não nos sentirmos sozinhas e desamparadas.

O que buscamos quando queremos um relacionamento? Um sentido, suprir uma carência, medo da solidão, medo de não ser amada por mais ninguém?  O que faz com que uma mulher evite a todo custo estar a só consigo mesma para permanecer ao lado de alguém que a trata mal? O que faz com que nos tornemos capacho de outra pessoa? Refiro-me aqui às mulheres, mas isso também acontece com os homens. Existem muitas mulheres abusivas, provavelmente movidas pela mesma energia machista imposta por nossa cultura. Acredito que o pior do machismo não é apenas o que está arraigado nos homens, mas o que está internalizado nas mulheres e sendo praticado por elas na criação de seus filhos homens. Precisamos, com urgência, homens e mulheres, rever nossos valores s ocioculturais e individuais para que possamos mudar essa realidade. O movimento não é unilateral, ele é dos dois, machos e fêmeas.

 Até a próxima!

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