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Vinhos. Vinhos e mais vinhos. De vários países, das mais variadas uvas. Dos mais variados tipos. Para os mais variados gostos. Vinhos jovens e envelhecidos. Tintos, brancos e rosés. Dos mais diversificados preços. Mais ou menos alcoólicos, com baixa ou alta acidez, mais ou menos encorpados, com muita ou pouca tanicidade. Vinhos.

Há uma expressão no mundo do vinho por demais conhecida: “Vinho bom é aquele que você gosta”. Claro que o gosto de cada um deve ser respeitado, mas é preciso entender melhor o que seria um vinho bom. Considero um vinho bom quando ele é tecnicamente bem feito, correto, sem defeitos. Isso é um vinho bom, independente de qual país tenha sido produzido. Mas isso não quer dizer que seja bom ao “paladar” de cada um. Não gostamos das mesmas coisas. E isso deve ser considerado sempre.

Pois bem, disse isso porque costumo ouvir das pessoas apaixonadas pelo vinho a seguinte pergunta: Vaner, esse vinho é bom? Aquele vinho é ruim? Esse vinho é melhor do que aquele outro? Qual vinho é melhor: da França ou da Itália, Argentina ou Brasil, Chile, Portugal? São perguntas não fáceis de serem respondidas, pelo menos no que se refere a achar uma resposta exata para cada uma delas. Por que elas não existem.

Coloquei essas situações acima para falarmos da tipicidade do nosso vinho, o vinho do Brasil. Para que possamos entender que certas comparações não devem ser feitas, pois as características do vinho de cada região levam em consideração aspectos importantes, tais como: terroir, clima, solo, microclima, intervenção humana, etc.

 

O Brasil é considerado um país de vinhos do Novo Mundo, tais como: Chile, Argentina, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Uruguai, Estados Unidos, etc. Esta denominação de “Novo Mundo” se dá em função de países que não possuem uma tradição antiga na produção de vinhos e que se atentam mais ao uso da tecnologia no processo do que no conceito de terroir. Essa diferença pode ser vista também na elaboração dos rótulos. Os vinhos do Novo Mundo normalmente trazem o nome da uva no rótulo, o que não é comum nos países do Velho Mundo, tais como: França e Itália. Mas a principal característica, na minha opinião, está no paladar. Os vinhos do Novo Mundo nos apresentam, em sua maioria, produtos com maior teor alcoólico, mais frutados, taninos muito macios e com maior teor de açúcar residual. Ao contrário, o Velho Mundo nos oferece vinhos com mais acidez, taninos mais presentes, com mais corpo e maior potencial de guarda. Valoriza-se mais o terroir. Claro que para tudo há exceções, seja no Novo ou no Velho Mundo. Cada enólogo tem seu próprio modo de produzir e cada vinícola sua filosofia, mas a grande maioria dos vinhos trarão características conforme coloquei acima para cada continente.

Dado as colocações acima, podemos então perguntar: qual é a tipicidade do nosso vinho? Talvez você responda rapidamente que são fáceis beber, pois se somos Novo Mundo, os vinhos serão conforme as características que expus acima. E em parte isso é verdade. Temos vinícolas que produzem vinhos comerciais, mas nosso vinho se assemelha, e muito, aos vinhos do Velho Mundo. Nosso terroir permite a produção de uvas de qualidade e que geram vinhos com taninos vivos, com boa acidez e que aguentam guarda, ou vinhos jovens de extrema qualidade. Vinhos gastronômicos que podem ser harmonizados com pratos os mais variados. Existem muitos “especialistas” dizendo que o Brasil não produz vinhos que suportam guarda de anos. Pois bem, tenho em minha adega vinhos de safra 2005, 2007 e 2010 que estão espetaculares, e ainda suportam alguns bons anos de envelhecimento.

Ouço muitas criticas de pessoas que não tomam nosso vinho. Criticam sem conhecimento, sem beber os vinhos e sem ter a menor noção do que o Brasil produz. Muitos acostumados com vinhos do Chile e Argentina, e até mesmo do Brasil, saturados de álcool, açúcar e madeira. Não conhecem os vinhos clássicos, e por esse motivo, falta conhecimento técnico para avaliar quando bebem um vinho que possuem taninos e boa acidez.

Por outro lado, tenho visto muita gente no Instagram, com conhecimento amplo de vinhos, elogiando nossos produtos. Especialistas do mundo inteiro tem elogiado nosso vinho, e falo de gente importante como Michel Rolland, Jancis Robinson e Steven Spurrier. O mestre italiano Roberto Rabachino, eleito por duas vezes como o melhor degustador de vinhos do mundo, além de ser Doutor em análise organoléptica, disse: “O vinho de Bento Gonçalves é o Montalcino (Itália), e a Borgonha (França), do Mundo”. Essa fala mostra claramente que nosso vinho está dentro dos padrões destes vinhos, seja em características ou mesmo em qualidade.

Então, se você vai degustar um vinho do Brasil, entenda que esse é o nosso retrato. De um vinho rico em acidez, taninos e que preserva as características do terroir local. Vinho brasileiro tem qualidade e você perde uma grande oportunidade de conhecer vinhos clássicos quando forma um preconceito a respeito disso. Experimente. Eu o desafio.

 

Vaner Benetti

Sommelier Internacional FISAR

WSET 1

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