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Hoje quero trazer para vocês um assunto pouco conhecido do público que aprecia o vinho. Mas é um assunto por demais importante na história do universo vitivinícola, pois foi um divisor de águas quando tratamos especificamente das cultivares, visto que algumas foram extintas do mapa, dando lugar a outras castas. Vamos conhecer um pouco sobre a história da Filoxera.

 

Seu nome cientifico é Phylloxera vastatrix ou afídeos, é um tipo de pulgão, também chamado de piolhos-de-plantas e é um inseto de tamanho diminuto. Vai de 0,3mm a 3mm de comprimento, a depender da fase de seu ciclo de vida. Pode atacar várias partes da videira em diferentes momentos do ciclo da planta ao longo do ano. O inseto ataca as folhas da planta e as destrói, o que reduz a capacidade da planta de fotossíntese. Além das folhas, o pulgão ataca as raízes, sugando sua seiva, o que gera o apodrecimento, sendo a causa da morte do vegetal.

 

A Vitis vinífera é uma das 60 espécies de uva que existem no mundo. Esta espécie é usada para a produção de vinhos finos. As castas que conhecemos hoje, dando origem à grande maioria dos vinhos que bebemos, são desta espécie. Isso tem um lado ruim, pois isso limita a variedade genética, o que deixa as plantas mais suscetíveis a doenças. Esta espécie é conhecida também como vinha europeia, por ser mais conhecida e difundida naquele continente. Acredita-se que a Vitis vinífera tenha sua origem no Oriente Médio.

A Filoxera já existia na América do Norte séculos atrás, onde reinava as espécies de uva autóctones daquela região, que não eram viníferas e já tinham contato com o pulgão por séculos. Estas espécies adquiriram resistência ao inseto ao longo dos anos. Já as espécies europeias não tinham qualquer contado com o inseto. A praga chegou na Europa quando os colonizadores europeus, na América do Norte, tentaram cultivar a espécie vinífera e não conseguiram ter resultado, pois as plantas morriam e eles não sabiam porque isso acontecia. Isso se deu no século XIX. Como não obtinham sucesso, e as espécies americanas não sofriam com esse problema, levaram mudas destas espécies americanas para a Europa para serem estudadas, levando junto a praga para o velho continente.

 

A Revista Adega em uma de suas edições, diz: “Reza a história que um Senhor chamado Borty, da região do Languedoc, sul da França, em 1862, recebeu as mudas das vinhas americanas e plantou-as em seu quintal. Este mercador de vinhos notou que as demais vinhas de sua plantação de Vitis vinífera começaram a morrer. Cerca de cinco anos depois, todo o sul da França estava devastado. Em uma década, a produção de vinhos da França caiu a um terço e a calamidade e a calamidade já era global.

A última região a ser atacada pela praga foi Champagne, em 1890. O Douro foi a primeira parte de Portugal com registros de Filoxera, em 1865. Em 1875, o pulgão já estava na Austrália, em 1880 na África do Sul, em 1885 chegou ao norte da África, na Argélia e de lá atacaria vinhedos na Tunísia e Marrocos. O século XIX chegou ao fim com o mundo de Baco destroçado e a produção mundial seriamente comprometida. A geografia do vinho estava mudada para sempre”.

 

Uma situação muito interessante foi o que aconteceu no Chile. Com a infestação dos vinhedos europeus, a uva Carménère tinha sido considerada extinta. Mas em 1994, o ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot, em um dos vinhedos chilenos, identificou que uvas plantadas como “Merlot” chileno, na verdade era “Carménère”. Através de uma análise de DNA, Boursiquot confirmou sua importante revelação. No mundo do vinho, a Carménère se tornou um símbolo da produção de vinhos no país. O Chile não foi atingido pela praga, protegido naturalmente por barreiras geográficas: Ao Norte, fica o Deserto de Atacama; no Leste, estão os Andes; ao sul, camadas de gelo da Patagônia e suas geleiras; e finalmente a oeste, estão o Oceano Pacífico e a Cordilheira da Costa. Outras regiões também foram protegidas da praga, como Colares, em Portugal e a Sicília, na Itália.

A maneira que encontraram para solucionar o problema, em 1974, em Montpelier, na França, foi enxertar uma muda de Vitis vinífera em uma vinha americana, que era resistente ao pulgão, conforme falei no inicio do artigo. Apenas a raiz da planta era de vinha americana, mas sobre ela crescia uma muda de vinífera. As vinhas enxertadas são chamadas de cavalo, porque elas são plantadas umas sobre as outras.

O mundo do vinho mudou depois da Filoxera, mas o importante que muito se aprendeu sobre isso e continuamos a beber vinhos de qualidade.

 

Vaner Benetti

Sommelier Internacional

FISAR – WSET1

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