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O ano de 2020 se apresentou promissor para o setor vitivinícola no Brasil. No geral, com a boa condição climática que o segundo semestre de 2019 e o começo de 2020 apresentaram, com um ou outro período com excesso de chuvas, a safra corrente está sendo considerada como a safra das safras dos últimos anos, ou até mesmo das duas últimas décadas. Boas colheitas, uvas sadias, maturação dos frutos dentro do período esperado, e claro, o bom manejo por parte dos vitivinicultores, trouxeram a perspectiva de um ano com excelente produção de vinhos brasileiros. Claro que nos últimos 20 anos, a vinificação do nosso país vem nos trazendo vinhos de excelente qualidade, com ótimas pontuações dos críticos, sejam brasileiros ou internacionais. E quem bebe o vinho brasileiro, valorizando nosso produto, sabe muito bem dessa evolução. Safras como a de 2008 e 2012 foram consideradas excelentes. Mas 2020, pelo menos para mim, em função das notícias, se mostrou com um diferencial, que podemos esperar vinhos com qualidade superior. Isso nos gerou boas expectativas, seja para o vitivinicultor, no aguardo de bons negócios e entrada de dividendos ainda melhores, seja para o consumidor, que espera a chegada de grandes vinhos nas adegas.

Mas como a vida sempre apresenta surpresas para todos nós, o inicio de 2020 também nos trouxe uma noticia nada agradável, o COVID-19. Algo que a principio se nos parecia algo não muito importante, que pudesse ser contido na Ásia sem muitos problemas para o Ocidente, em especial a nós, brasileiros, de repente faz com o país vire de cabeça para baixo. Isolamento social, comércio fechado, transporte limitado, quarentena. Algo que ninguém poderia prever nem mesmo em seus piores pesadelos, em especial aos empresários de um modo geral, sejam eles grandes ou pequenos em seu negócio. A economia já não vinha bem e a esperança de melhoras no aquecimento da mesma foram por água abaixo neste primeiro momento do ano. E aí vem a pergunta: o que irá acontecer?

Para que haja um comércio e indústria aquecidos, se faz necessário que o dinheiro esteja girando em todos os âmbito e classes sociais. E neste momento isto não está acontecendo. A expectativa é que haverá uma forte retração no PIB do país. E em meio a tantas dúvidas e questionamentos, ficamos a nos perguntar o quanto isso irá afetar o mercado do vinho no Brasil. Talvez, e esta é uma opinião minha, a produção não seja tão afetada, até porque à essa época, as uvas já foram colhidas e vinificadas. E claro que muitos destes vinhos serão comercializados nos próximos anos, especialmente os vinhos de guarda. Mas e quanto aos vinhos jovens produzidos para consumo imediato? E os vinhos que foram produzidos em safras anteriores para lançamento em 2020? Terá o consumidor renda para “investir” em vinhos? As vinícolas terão fôlego financeiro para suportar uma possível crise que poderá acontecer? E o enoturismo, como ficará, visto que ninguém está viajando neste período? E a percepção financeira do consumidor? Os vinhos terão seu preço reduzido para que haja saída rápida, com grandes volumes e recuperação de receita imediata ou as vinícolas aumentaram o preço para um ganho mais substancial, ainda que esta recuperação venha a ser mais lenta?

Para o enólogo e economista Douglas Chamon, o enoturismo sofre um grande impacto neste momento, mas viagens e visitas às vinícolas podem ser reagendadas, minimizando o impacto à frente, pós COVID. A produção não foi afetada, pois a pandemia aconteceu após a safra 2020, mas o fechamento da cadeia de distribuição/venda reduzirá as vendas e afetará o caixa das empresas no curto prazo. As empresas que possuírem uma saúde financeira estável, naturalmente, passarão mais facilmente pelo problema. Os pontos positivos para Chamon, são o fato de o produto não ser perecível no curto prazo, sendo adegado para venda futura, e do lado da demanda, o consumo de vinho fino ocorre mais nas classes média, média alta e alta, sendo o impacto da perda de renda menor do que a sofrida pelas classes mais baixas, o que pode proporcionar uma retomada das vendas mais rapidamente após a crise.

O fato é que muitas perguntas se fazem presentes neste momento, mas penso que as respostas virão mesmo no segundo semestre, após o fim deste delicado processo. O medo e a incerteza se fazem presentes, mas a esperança do brasileiro sempre se sobrepõe nos momentos mais difíceis. Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos. Viva o vinho brasileiro.

 

Vaner Benetti

Sommelier FISAR/WSET1

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