O governo do Rio de Janeiro divulgou, através do Diário Oficial, na última semana, que o acarajé se tornaria patrimônio histórico e cultural do estado. Conhecido por ser uma comida típica associada a Bahia, a decisão teve repercussão nas redes sociais, onde baianos questionaram o motivo pelo qual o bolinho de feijão se tornaria "carioca".
O professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e doutor em antropologia, Vilson Caetano, afirma que o acarajé não é nem baiano, nem carioca: é africano. A comida típica chegou ao Brasil através dos africanos escravizados e se consolidou no estado mais negro do Brasil, a Bahia.
Para o historiador e influenciador digital, Matheus Buente, quando um estado declara que algo é considerado patrimônio histórico, isso demonstra a importância desse objeto para a cultura do local.
Para Matheus, considerar o acarajé como patrimônio histórico é importante para a preservação do bolinho de feijão, tanto na forma de fazer, como de vender e consumir.
O acarajé é considerado patrimônio histórico baiano?
Em 2002, a Associação de Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia, o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia e o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, encaminharam ao Ministério da Cultura um pedido para que o acarajé fosse considerado patrimônio cultural brasileiro.
Após diversos estudos, em 2004 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entendeu que o acarajé é "o alimento emblemático do universo dos saberes e modos de fazer das baianas do tabuleiro". Por isso, o instituto decidiu tornar o ofício das baianas de acarajé em Salvador como patrimônio cultural brasileiro.
Para Vilson Caetano, tornar o trabalho das baianas como patrimônio incluiu o acarajé - e os outros alimentos vendidos no tabuleiro. Apesar da decisão já incluir o bolinho de feijão, para o doutor em antropologia é importante que o alimento seja reconhecido como patrimônio em outros estados. Para ele, o reconhecimento e da comida sagrada nas religiões de matriz africana anda junto com a valorização da cultura.
O acarajé é considerado patrimônio histórico de Salvador?
Uma lei municipal sancionada em junho de 2002 instituiu o acarajé como Patrimônio Cultural de Salvador. A lei foi sancionada antes da própria decisão do Iphan, em 2004.
Na ocasião, a lei nº 6138/2002 foi assinada pelo prefeito da época, pelo secretário municipal do governo e pela secretária de educação.
O que a associação de baianas de acarajé pensa sobre o acarajé ser patrimônio histórico e cultural do Rio?
Para a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM), não há problema no reconhecimento do acarajé como patrimônio histórico e cultural no Rio de Janeiro. Para a entidade, a questão está na ausência da mesma lei na Bahia.
Para a associação, o reconhecimento do bolinho de feijão como patrimônio pode proteger o alimento de "absurdos" como alterações de sabor, modo de preparo e de venda.
Ainda de acordo com a ABAM, a entidade está em diálogo com a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) para tentar formular a lei.
Por: Vida Diária/G1 BA
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