O município de Jucuruçu, no extremo sul da Bahia, tem uma das histórias mais ricas da região, tanto antes quanto depois de sua emancipação. Durante anos, o isolamento geográfico e a falta de uma rodovia asfaltada dificultaram seu acesso, levando à ideia equivocada de que se tratava de um distrito e não de uma cidade independente. A conclusão do asfalto ligando o município à BR-101, há cerca de um ano, marcou um novo capítulo em sua trajetória, facilitando o acesso e reforçando sua identidade, 35 anos após a emancipação.

Raízes históricas: das famílias fundadoras à cidade de hoje

A história de Jucuruçu remonta a 1912, quando Ramiro Rocha e Zé de Du chegaram à região, então um caminho indígena que conectava tribos do norte de Minas Gerais às de Porto Seguro e Prado. Com o tempo, suas famílias se entrelaçaram por meio de casamentos estratégicos, sendo o mais emblemático entre Manoel de Du, primogênito de Zé de Du, e Júlia Rocha, neta de Ramiro. Foi Manoel quem, junto ao avô de sua esposa, doou as terras que hoje formam o centro da cidade.

Mais de um século depois, Jucuruçu cresceu e se dividiu em dois distritos de população similar à da sede, além de outros três menores e diversas comunidades rurais.

Cenário político: reeleição e mudanças na Câmara

Em 2025, Arivaldo de Almeida Costa, o “Lili”, tomou posse para mais um mandato como prefeito, consolidando sua liderança política ao vencer sua ex-esposa, Uberlândia Pereira, nas urnas. Curiosamente, quatro anos antes, ele havia derrotado o então namorado dela, Edemark Pinheiro Ruas, o “Marquinhos de Jota”. Desta vez, além de Uberlândia, ele também superou Ernandes Jardim, o “Nande”, marido de sua ex-vice-prefeita e antigo aliado político.

A vice-prefeitura passou por mudanças: Leidian Jardim saiu de cena, dando lugar a Misael Bartolomeu, conhecido como “Tremedeira”. Já a Câmara de Vereadores manteve boa parte de seus integrantes, com a reeleição de Gilcássio Pereira e Maria Nilza Loyola (agora em seu terceiro mandato), Fredson Gonçalves, Maria Aparecida Vieira e Girlande Cruz (reeleitos para um segundo mandato). Entre os novos nomes estão Ailton Dias, o “Tim do Hospital” – vereador mais votado –, além de Cléia Sena, Wilza Ferraz e Unilton Gomes.

Tradição política e alianças

Maria Nilza Loyola reforçou sua presença no cenário político. Seu marido, Manoel Loyola, foi vereador por quatro mandatos consecutivos e prefeito por um período, até sofrer impeachment, sendo substituído por seu vice, Gilberto Nogueira, o “Gélo”. Agora, Maria Nilza assume a presidência da Câmara para o biênio 2025-2026.

Outra liderança tradicional é Maria Aparecida Vieira, sobrinha de Armindo Vieira de Araújo, que foi vereador por Itamaraju quando Jucuruçu ainda era um distrito.

Cléia Sena também segue uma linhagem política: seus tios Itamar Batista e Hélio Batista foram vereadores por Itamaraju e Jucuruçu, respectivamente. Além disso, sua experiência como secretária de três ex-prefeitos e chefe de gabinete do atual gestor fortaleceu sua candidatura.

Ailton Dias, bisneto de Zé de Du e figura ativa na emancipação do município, se destacou na área da saúde e conquistou o reconhecimento da população, tornando-se o vereador mais votado. Ailton, conhecido como "Tim do Hospital" foi o secretario de saúde que atuou por mais tempo na cidade, passando pelos governos de Eliana Curvelo, Teodolino Pereira e Manoel Loyola. Após forte oposição à gestão de Uberlândia Pereira, Ailton assumiu a direção do hospital municipal, consolidando seu manejo como gestor em saúde. Gilcássio Pereira demonstrou força política ao ser eleito duas vezes como o mais votado e, desta vez, garantindo o segundo lugar.

Wilza Ferraz teve sua atuação social reconhecida, com forte apoio da comunidade “os Caboclos”. Fredson Gonçalves, por sua vez, aumentou expressivamente sua votação ao romper com o grupo da ex-prefeita Uberlândia Pereira, destacando-se pela diplomacia e simpatia.

Girlande Cruz manteve sua postura fiscalizadora e foi um dos poucos eleitos pela oposição. Já Unilton Gomes, o mais jovem da nova legislatura, recebeu grande apoio no distrito de Monte Azul e conta com forte base entre os evangélicos pentecostais.

Desafios e expectativas

Com um novo mandato e uma Câmara parcialmente renovada, os próximos quatro anos serão cruciais para o desenvolvimento de Jucuruçu. O asfalto trouxe visibilidade e novas possibilidades, mas também aumenta as expectativas da população por melhorias em infraestrutura, saúde e educação.

Agora, cabe aos eleitos honrar a confiança depositada nas urnas e trabalhar por um futuro mais próspero para este município que, por tanto tempo, foi isolado, mas que segue firme em sua trajetória de crescimento.

Por: Vida Diária/Mirian Ferreira