No dia mundial da poesia (21 de março), o Vida Diária apresenta um baiano de Itaquara que já se acostumou em representar o Brasil em vários países quando o assunto é literatura. Narlan Matos tem 42 anos e é Bacharel em Letras pela Universidade Federal da Bahia, Mestre em Artes pela Universidade do Novo México e Ph.D pela University of Illinois at Urbana Champaign nos Estados Unidos.
O primeiro livro de Narlan - Senhoras e senhores: o amanhecer! - foi vencedor do Prêmio Copene de Literatura (atual Braskem) em 1997 e publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado. Em 2000, o segundo livro - No acampamento das sombras - ganhou o primeiro prêmio nacional (Prêmio XEROX de Literatura Brasileira). O terceiro livro de poemas - Elegia ao Novo Mundo - nasceu em 2012 e foi traduzido em várias línguas. Narlan ainda é pouco conhecido no seu país, mas recebe elogios por onde sua obra chega. Ele foi o primeiro poeta brasileiro membro do Japanease Universal Poets, com sede em Kyoto, no Japão. Seus livros já foram traduzidos para o inglês, esloveno, croata, chinês, vietnamês, lituano, sueco, japonês, inglês, espanhol, italiano e hindu. Em 2014, uma crônica dele foi lida na Rádio Nacional da Dinamarca.
Atualmente Narlan mora no EUA e no ano passado aconteceu um dos momentos mais importantes da vida dele: o nascimento do primeiro filho. Neste mês, esteve em Itaquara e, entre um compromisso e outro, respondeu às perguntas do Vida Diária por e-mail:
Vida Diária - O que está fazendo no Brasil agora?
Narlan Matos - Não via minha mãe há dois anos, e tinha que vir. Além do mais, não posso ficar muito tempo sem ver Itaquara. Minha bússola.
Vida Diária - Você busca inspiração em sua cidade natal Itaquara e o sertão baiano?
Sim. Como falei acima, a cidade, isolada entre serras vermelhas, dona de uma história muito peculiar, é minha bússola.
Vida Diária - Como nascem seus poemas?
Uns me dão muito trabalho, outros, não. Qualquer situação pode me levar a escrever. Geralmente, eles vêm, me acordam, mesmo quando não estou dormindo, e me contam o que querem dizer.
Vida Diária - Por que você foi morar no EUA?
A vida na Bahia ficou difícil demais. As portas não se abriam. Morei em Salvador durante 11 anos, na casa de minha irmã, e chegou o momento em que percebi que ir embora era a única opção, sobretudo porque, enquanto as universidades nos EUA me chamavam para trabalhar, as universidades aqui na Bahia, não me queriam.
Vida Diária - Como a poesia brasileira é vista no exterior?
Há mais interesse na poesia de língua espanhola. O Brasil se distanciou do resto da América Latina, e paga um preço terrível por isso. O espanhol deveria ser adotado como nossa segunda língua. Seria muito benéfico.
Vida Diária - Como você vê o fato de ser mais conhecido fora do que dentro do Brasil?
Um sintoma sério de um problema maior. Quem vai levar a sério, em São Paulo ou no Rio, um poeta da pequena e humilde Itaquara? Eles ainda não conseguem digerir isso. Já no exterior, eles adoram minha obra. Esta manhã, acordei com uma mensagem da grande poeta espanhola Trinidad Gan, elogiando minha obra. Hoje, sou um poeta publicado em 14 idiomas, e elogiado pela crítica especializada em muitos países. A verdade é que, na atualidade, eu sou o poeta brasileiro mais traduzido e publicado no mundo. Também um dos poetas latino-americanos mais reconhecidos no mundo. E, sem dúvida, um dos menos conhecidos no Brasil, mesmo depois de 20 anos de trajetória mundial.
Vida Diária - Você representa o Brasil em vários eventos pelo mundo. Comente sobre isso.
Já são 20 anos de carreira. E desde cedo comecei a ser convidado para o exterior. Eu tinha vinte e poucos anos e os convites já chegavam. Vai chegar o dia em que o Brasil vai descobrir uma velha novidade... eu vejo muito poetinha de segunda e regional sendo idolatrado sobretudo no Rio e em São Paulo. Tanto nos EUA quanto na Espanha, na Itália, na Alemanha, no México, na Eslovénia, na Croacia e no Japão, eles dizem que sou um poeta universal.
Vida Diária - Você já foi elogiado por grandes nomes da literatura nacional e internacional. Quem você pode destacar?
Robert Creeley, Tomaz Salamun, Ferlinghetti, Yevgeny Yevtushenko, Juan Carlos Mestre, Michael Palmer, e muitos outros. São ícones da poesia mundial.
Vida Diária - Em 2014, uma crônica sua foi lida na Rádio Nacional da Dinamarca. Como você viu este reconhecimento?
Feliz demais. Também, há uns 6 meses, a Rádio Nacional da Croácia levou ao ar um programa de 30 minutos sobre minha vida e obra. Isso foi em horário nobre. A lista de coisas assim é longa... já são 20 anos de trajetória mundial com muita coisa boa que ninguém sabe no Brasil... nos últimos 14 meses já foram publicadas 4 antologias poéticas minhas no Japão, Eslovênia, Itália e Espanha.
Vida Diária - Fale um pouco do seu trabalho como compositor de músicas em parceria com Luis Caldas.
São trabalhos mais lépidos que a poesia. Letra de música é algo que adoro fazer e faço sem o peso da poesia. Também produzi 2 discos de Luiz. Ficaram ótimos. Luiz é só reconhecido pela Axe Music, mas ele é muito maior que isso, ele toca jazz, por exemplo, música clássica, etc.
Vida Diária - Há algum novo projeto em vista? Muitos! Esse ano vai dar muito o que falar. Vou sair em turnê mundial. Deve sair, em São Paulo, meu 4º livro de poemas pela editora Penalux. Estou muito animado.
Por: Vida Diária/Amabele Amorim
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