Você já bebeu um vinho santo? Não!!?? E também não acredita que exista esse tal vinho santo!!?? É estranho mesmo. Quando ouvimos isso ficamos a imaginar como é esse vinho. Se foi algum santo que o fez, se é fruto de um milagre ou santificado por alguém. Mas eu te digo: o vinho santo existe sim e você poderá provar um dia. Mas que vinho santo é esse? Se onde vem? Seria um vinho que curaria alguma doença? Ou um vinho em homenagem a todos os Santos?

Bem, há várias histórias (ou seriam estórias?), sobre a origem do vinho santo. Religião e vinho caminham lado a lado ao longo dos séculos, o que possibilita termos teorias várias a esse respeito. Vejamos algumas.

Partindo para um lado religioso, há uma hipótese que esse famoso vinho de sobremesa se originou na região da Toscana, na Itália. O nome ( Vino Santo ou Vin Santo), dever-se-ia ao seu uso nas missas. Há ainda aqueles que dão suporte a teoria de que, o vinho, por ser adocicado, agradava o paladar das crianças na hora da comunhão, por isso era usado. Ou seja, segundo essa teoria, o vinho, por ser usado na hora da eucaristia, na missa, seria santo.

 

Uma outra corrente religiosa diz que um frade franciscano, em Siena, no século IV, usava o vinho restante da missa para tratamento de pessoas doentes, alcançando milagres de cura, daí ser chamado de vinho santo.

Uma outra vertente diz que o mosto começava a fermentar no dia primeiro de novembro, dia de Todos os Santos e era engarrafado na Páscoa, sendo assim chamado de santo.

Outra hipótese, sendo esta mais crível, é de que mercadores de Veneza, compravam esse vinho na ilha de Santorini, na Grécia, e levavam para a Itália, chamando-o abreviadamente de Vin Santo, isto é, vinho de Santorini. Independente da origem e suas teorias, fato é, que o vinho se espalhou por toda terra Italiana e também pelo mundo.

A produção deste vinho se dá de forma diferente. As uvas são deixadas para secarem em esteiras de palha, em locais quentes, mas ventilados. Esse processo de apassimento (a uva se transforma em passa), permite que a mesma mantenha um alto teor de açúcar residual. Após, o vinho é colocado em pequenas barricas, onde envelhece por 3 anos. Alguns produtores permitem essa maturação por até 10 anos. Isso gera uma perda do volume do vinho, o que faz com que entre em contato com o oxigênio. Essa oxidação atribui ao vinho uma cor âmbar. Normalmente se usam uvas brancas para sua produção como a Malvasia e Trebbiano, mas também pode ser produzido com Sangiovese, o que atribui ao vinho uma cor mais rosada, sendo chamado de Occhio di Pernice – ou seja, olho de perdiz.

 

Além de doce, este vinho pode também ser seco ou fortificado (adição de aguardente vínica), sendo chamados de vinho santo licoroso. A produção do vinho na Grécia mostra algumas diferenças. É produzido com a casta Assyrtiko, e complementado com outras duas castas locais, Athiri e Aidani. Outra diferença é que o vinho grego possui maior acidez, por não sofrer um longo processo de maturação, o que permite menos oxidação. Ainda, as uvas são deixadas a secar na própria videira.

A harmonização desse vinho, por tradição, na região da Toscana, é feita com um biscoito chamado de cantucci e é produzido com amêndoas. É um biscoito muito duro e deve ser molhado no vinho para amolecer e acentuar seu sabor.

Santo ou não, é um excelente vinho de sobremesa, mas com um preço elevado, em torno de 300 reais a garrafa de 500 ml. Então, a esse preço, para alguns, degustar essa iguaria algum dia, será um milagre.

 

Vaner Benetti

Sommelier Internacional FISAR

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