Série Pioneirismos em Teixeira
O Vida Diária inicia uma série de reportagens que homenageia alguns dos pioneiros de Teixeira de Freitas, neste mês de aniversário da cidade. Para falar um pouco do início da imprensa em Teixeira, nesses 32 anos de emancipação política, procuramos o radialista Ramiro Guedes da Luz, que há 27 anos tem o mesmo programa, o Almoço à Brasileira, que foi ao ar na cidade no mês do aniversário de Teixeira. Ele define sua relação com a cidade em uma frase: “Eu sou apaixonado por Teixeira de Freitas”.
Ramiro Guedes tem 69 anos, nasceu na casa de número 07, da Rua da Flores, em Teófilo Otoni (MG), em 12 de março 1948. Ele tem 8 irmãos. Se formou em Letras em uma extensão da Universidade Católica na cidade de Pedro Leopoldo (MG). Tem aproximadamente 40 anos que trabalha em rádio. O primeiro casamento de Ramiro foi com Raquel da Imaculada Conceição com quem viveu sete anos e teve Juan Pablo, Tarsila e Luciano. Depois se casou com Marisa de Fátima Goulart e vive há 32 anos essa história de amor, com quem teve sua princesa Maíra Guedes.
Foto: Ramiro Guedes na Rádio Caraípe
Chegou a Teixeira de Freitas no dia do aniversário da cidade (09 de maio) em 1990. Ele trabalhava na Rádio Imigrantes de Teófilo Otoni e recebeu o convite do prefeito de Teixeira da época (Francistônio Pinto) para trabalhar na Rádio Caraípe em Teixeira. Francistônio, além de prefeito, era dono da Rádio Caraípe e da Rádio Difusora. Quando chegou a cidade ele se hospedou no Roda Viva, que está até hoje no mesmo local. “Na primeira semana aqui eu também comecei com o Almoço à Brasileira”, informou Ramiro.
Ramiro foi recomendado pelo presidente da Associação Comercial de Teófilo Otoni da época, Sélem Handele. Mas não aceitou logo o convite, “eu fiquei indeciso, pois conhecia a fama de Teixeira de Freitas, de violência. Isso foi logo depois da primeira eleição, onde receberam uma juíza a tapas e tinha vindo Força Federal para cá”.
Ele se lembra, brincando, que em seus primeiros anos de imprensa na região, ele tinha um apelido de “Roberto Marinho dos pobres”, isso por que ele era diretor das rádios Caraípe, Difusora, Alvorada, rádio de Eunápolis, rádio de Itapetinga e rádio de Medeiros Neto, ao mesmo tempo, “ou seja, não dava pra fazer quase nada, a não ser com a daqui”. Na época que ele foi diretor dessas rádios, ele buscou valorizar os colegas e pagava um dos melhores salários da Bahia. Ele também teve que brigar para fazer valer direitos, isso por que, muitas rádios, até hoje, não gostam de pagar funcionários e, quando pagam, não são bem remunerados.
Assim se profissionalizava o jornalismo radiofônico na região. Ele disse que sempre foi colunista em alguns jornais, como o antigo jornal Extremo Sul, e depois também começou a escrever suas colunas para sites.
Morou dois anos em Porto Seguro, mesmo assim, sempre apresentou o Almoço à Brasileira em Teixeira. “Nunca deixei de fazer. As únicas vezes que deixei de fazer o programa foram em dois momentos: no casamento de Uldurico Pinto, que eu fui para o casamento e deixei o programa gravado; e, no falecimento de meu filho, que faleceu numa quinta-feira, aí no sábado eu não fiz o programa”, disse o radialista.
Ramiro teve um filho autista que faleceu cedo, em 1997. “Uma cidade onde você tem um filho enterrado se torna aquele pedaço que Chico Buarque define “saudade é o revés de um parto, saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”, disse Ramiro.
“Eu me lembro que Fernando Moulin estava aqui quando eu cheguei e até hoje está no ar, Alberto Legalé também, que agora está na Abrolhos FM em Mucuri e Samuca Macedo. Essa turma toda continua trabalhando”, disse. “A velha guarda do rádio está aí, o alicerce continua, como Moreau Nunes, JB”, enfatizou, lembrando com carinho dos colegas de profissão.
“O jornalismo de Teixeira é um jornalismo diferente, é o que eu chamaria de jornalismo de resultados”, define Ramiro. Sobre o início da imprensa na região ele diz que o jornalismo “era bem mais agressivo, no sentido dos fatos”.
Em 1991 aconteceu algo que marcou a vida de todos os radialistas da cidade, que foi o caso Ivan Rocha (radialista tido como desaparecido até hoje), “foi o meu batismo de fogo, pois nunca tinha tido uma participação de rádio que levasse para esse lado”, falou Ramiro. Outro momento marcante para ele foi uma eleição a prefeito entre os candidatos Temóteo Brito e Ubaldino Júnior: “foi uma campanha terrível, de muita agressividade, ameaça de morte e uma série de outras coisas”, disse.
Foto: Ramiro (à esquerda), Fernando Moulin, Mário Lucio e Amadeu Ferreira
O primeiro curso de radialista da história de Teixeira de Freitas foi feito no Espaço Cultural da Paz, por uma iniciativa do Zé da Baiana com o auxílio de Ramiro Guedes. Eles trouxeram o sindicato para a cidade e o curso durou um ano, “era todo primeiro sábado do mês o dia inteiro e só poderia ser feito por pessoas que tinham, pelo menos, 5 anos de profissão. Depois avacalhou, quem queria falava em rádio”, informou.
Ele diz que a relação entre ‘patrão’ e ‘empregado’ no rádio e jornalismo sempre foi diferenciada em Teixeira, pois os ‘patrões’, por vezes, fazem o trabalho jornalístico. Atualmente, muita coisa se desenvolveu e hoje a cidade conta com a Rádio Câmara, que é diferenciada das demais.
“Sem dúvida nenhuma, a história de quem mora em Teixeira, se confunde com a própria Teixeira, pois Teixeira é uma cidade que prende a gente, pelos encantos e desencantos”, disse o radialista, que não se arrepende de ter vindo para a cidade.
Ramiro foi, no período de 2012 a 2016, o secretário de Cultura do município. Sempre foi um ícone local no assunto cultura, pois lutou e luta pela valorização dos artistas da terra. “O rosto cultural de Teixeira é diversidade, e, ao mesmo tempo, é uma cidade que falta tudo, por exemplo, livrarias, teatro”. “Por outro lado, Teixeira teve três cinemas, como o Cine Brasil, o primeiro daqui”, disse Ramiro.
Foto: Ramiro entrevistando o ex-governador Jaques Wagner
O Almoço à Brasileira marcou e marca os fins de semana da cidade. Muitas vezes, sai dos estúdios do rádio e vai até o público, em festas, feijoadas e projetos que estejam acontecendo. “Muita gente acha que o forte do Almoço à Brasileira é fazer fora, mas eu interrompi esse fazimento já tem dois anos por questão de equipamento. O Almoço à Brasileira nasceu em Teófilo Otoni, na Rádio Imigrantes, que tinha um programa com esse nome, mas com estrutura diferente de hoje. Antes eu trabalhava na Rádio Teofilo Otoni e tinha um programa das 20 à 00 hora chamado Da Luz e Da MPB, que pra mim foi o embrião do Almoço”.
É um programa com informação, música e valorização da cultura, sempre levando poetas, escritores em geral, cantores e muitos outros artistas. Ramiro já fez muitos programas nas universidades e em cidades vizinhas. Trouxe atrações nacionais como Renato Teixeira e Xangai no aniversário de 5 e de 10 anos de programa e Oswaldo Montenegro nos 15 anos. “A parte mais importante da minha vida profissional é o Almoço à Brasileira”, destacou Ramiro.
“Teixeira é o seu povo a sua gente humilde”, disse Ramiro. Ele passa nas ruas e percebe a vida dos cidadãos e vê em nossa cidade a poesia de Vinicius de Morais retratada: “São casas simples com cadeiras na calçada e na fachada escrita em cima que é um lar, pelas janelas flores tristes e baldias como alegria que não tem onde encostar”, finalizou Ramiro, definindo Teixeira liricamente.
Por Vida Diária/ Petrina Nunes
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