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Existem momentos na vida em que nos sentimos por baixo, inadequados como se não fizéssemos parte do grupo social que frequentamos. Sentimentos de inferioridade, de inadequação, de não pertencimento, como se algo estivesse errado por estarmos aqui. Quantas pessoas entram em pânico quando têm que falar em público em uma sala de aula ou quando vão dar uma palestra, outras quando estão próximas de fazer uma entrevista de trabalho. Têm também aqueles momentos em que somos tomados pelo ciúme, nos sentindo como se fôssemos a pior das criaturas, humilhados como se as outras pessoas fossem muito melhores que nós. Há pessoas que se sentem sempre feias, ou que se acham gordos e que por isso não agradam às outras. Eu poderia ficar aqui enumerando muitas situações de ausência de poder e autoconfiança, mas o que quero é mostrar como podemos influenciar nossas sensações, nossas emoções, simplesmente modificando nossa postura corporal.

A Dra. Amy Cuddy é uma psicóloga social que estuda o preconceito, dando uma especial atenção nas expressões não verbais de poder e domínio. Ela se dedicou ao estudo de como a linguagem corporal pode afetar a maneira como nos sentimos em relação a nós mesmos. Dependendo da maneira como nos sentamos, como ficamos em pé e a postura corporal que adotamos pode mudar a forma como nossa vida se desenrola.

Pensem na postura dos atletas que ganham competições como eles abrem os braços, erguem o troco e o queixo, adotando uma postura de amplidão, de engrandecimento, de expansão como se quisessem ocupar todo o espaço. Observando seus alunos no curso de MBA, ela pôde constatar que todos aqueles que participavam com mais qualidade das aulas e tinham maiores notas em participação demonstravam uma postura ampla, aberta e expansiva, enquanto outros tão capazes e qualificados quanto os primeiros, não possuíam tão boas notas em participação. Isso levou-a a se questionar: se as pessoas adotassem certos gestos de poder fingindo se sentirem poderosas por exemplo, provocaria uma mudança na maneira como se sentem, ou seja, se adotarmos determinadas posturas corporais ainda que de maneira forçada, poderia nos fazer sentir daquela forma depois?

Partindo do princípio de que posturas e expressões corporais influenciam a forma como as pessoas veem e sentem umas as outras, Dra. Amy se perguntou se o mesmo poderia acontecer em relação a nós, ou seja, será que nossas expressões não verbais influenciam a maneira como pensamos e nos sentimos em relação a nós mesmos? Se nossa mente, nossos sentimentos  influenciam nosso corpo, poderia nosso corpo influenciar nossa mente e nossos sentimentos?

Mas afinal, quais as diferenças entre alguém que se sente poderoso daquelas que não se sentem assim? Pessoas que se sentem mais poderosas tendem a ser mais assertivas, mais autoconfiantes, mais otimistas, correm mais riscos. As que não se sentem poderosas tendem a ser retraídas e inferiorizadas, com pouca auto confiança e correm bem menos riscos.

Muito interessante é que Dra. Amy constatou mudanças não só comportamentais, mas também fisiológicas entre indivíduos que se sentem mais ou menos poderosos. Os dois hormônios mais importantes neste contexto são a testosterona (hormônio do domínio) e o cortisol (hormônio do estresse). Ela observou que os machos alfas nos animais tem alto nível de testosterona e baixo nível de cortisol e grandes líderes também, o que faz com que sejam mais tolerantes ao estresse. Nos primatas por exemplo, quando um indivíduo precisa assumir a liderança de seu grupo repentinamente, seu nível de testosterona sobe abruptamente e seu cortisol diminui na mesma proporção. Estas descobertas levaram Dra.Amy a perceber que mudanças de papéis sociais também formatam nossa mente.

Em sua pesquisa em laboratório ela submeteu algumas pessoas a um experimento, fazendo com que elas adotassem certas posturas e expressões de poder e dominância e de baixo poder durante dois minutos. Depois foram colhidas amostras de saliva, além de submeterem-nas a um jogo. Das pessoas que assumiram uma postura poderosa, 86% arriscaram mais no jogo. Daquelas que assumiram a postura de baixo poder 60% não arriscaram jogar. A testosterona das pessoas que adotaram uma postura de poder aumentou 20%, nas pessoas que adotaram uma postura de baixo poder houve uma queda de 10%. Os indivíduos que experimentaram o estado poderoso tiveram uma queda de cortisol de 25% e as pessoas de baixa sensação de poder tiveram um aumento de 15% em sua taxa.

A partir desta pesquisa concluiu-se que bastam apenas dois minutos para o cérebro ser configurado com estas mudanças, tanto para se sentir confiante, assertivo e confortável quanto para  ser muito reativa ao estresse e sentir-se inferiorizado. Parece que nossas expressões não verbais comandam as sensações e a forma como pensamos e sentimos em relação a nós mesmos.                           

Portanto ainda que você não se sinta poderoso ou poderosa, não importa, finja que é, comporte-se como se fosse, pratique atitudes de poder, de autoconfiança e assertividade, que seu cérebro em dois minutos responderá a altura. Não se trata de ser fingido apenas, trata-se de fazer o que estiver ao seu alcance para mudar o seu estado. Mesmo que você acredite que não sirva pra isso ou aquilo, vá com medo, mas vá, siga em frente. Sem que você perceba você se tornará aquilo que queria. Se você precisa estar seguro e confiante para uma entrevista faça um treinamento antes, assuma uma postura de poder, procure trabalhar sua mente com sensações de confiança, sinta-se poderoso faça a postura da mulher maravilha ou do super homem e deixe-se levar pelo sentimento que estas posturas vão gerar em você. Bastam dois minutos para seu cérebro começar a reagir. Isso serve pra tudo. Pequenas atitudes podem provocar grandes mudanças se forem praticadas com frequência.

Até a próxima semana!

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Por Vida Diária: Cristina Castro. E-mail: [email protected]

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