Cientistas levaram um ano para entender o que gerou um evento sísmico que ecoou pelo mundo por nove dias, em setembro de 2023. Foram necessárias 70 pessoas de 15 países diferentes para desvendar o caso que intrigou os pesquisadores.
A descoberta foi a de que um grande tsunami criou ondas que se espalharam para frente e para trás em um fiorde na Groenlândia, criando vibrações que viajaram pelo mundo todo. O estudo envolveu pesquisadores da UCL (University College London) e foi publicado na revista científica “Science” na quinta-feira (12).
O estranho sinal sísmico apareceu em estações científicas pelo mundo, mas não parecia um terremoto. Chegou-se a cogitar que os equipamentos que registraram os sinais estavam quebrados e até que um novo vulcão estivesse surgindo. Os cientistas passaram a chamar o evento de “Objeto Sísmico Não Identificado”, ou USO.
As concentrações de gases de efeito estufa aceleram o derretimento do gelo. Em 16 de setembro de 2023, esse calor extra afinou uma geleira no leste da Groenlândia que não poderia mais suportar uma montanha acima dela.
Um pedaço de rocha de 1,2 km de altura caiu e a avalanche mergulhou no Fiorde Dickson, causando um respingo de água a 200 metros no ar, com uma onda de até 110 metros de altura. Essa onda, estendendo-se por 10 km de fiorde, reduziu-se para sete metros em poucos minutos e teria caído para alguns centímetros nos dias seguintes.
A setenta quilômetros de distância do deslizamento de terra, ondas de tsunami de quatro metros de altura danificaram uma base de pesquisa e destruíram sítios culturais e arqueológicos em todo o sistema de fiordes. Por sorte, não havia navios turísticos por perto do Fiorde Dickson.
A onda do mega tsunami viajou para frente e para trás na entrada e criou uma onda estacionária chamada seiche. Os seiches são vistos em pequena escala em uma piscina, por exemplo. Mas a fonte de tsunami era tão forte que o seiche irradiou ondas sísmicas globalmente, de forma a sacudir o planeta por nove dias.
Os cientistas inicialmente se debruçavam sobre os dados nas estações sismográficas e não chegaram a ver relação com o deslizamento de terra na Groenlândia. E a vibração era lenta e diferente de um terremoto.
O deslizamento de terra foi resultado do afinamento da geleira no sopé da montanha, tornando-se incapaz de sustentar a face rochosa acima dela, disseram os pesquisadores. Isso foi devido às mudanças climáticas.
Esse deslizamento de terra e o tsunami foram os primeiros observados no leste da Groenlândia, o que mostra como as mudanças climáticas já têm grandes impactos na região.
A equipe usou imagens capturadas por militares dinamarqueses que navegaram até o fiorde poucos dias após o evento para inspecionar a face da montanha e a frente da geleira desmoronadas, juntamente com as cicatrizes dramáticas deixadas pelo tsunami.
A combinação de dados de campo locais e observações remotas em escala global permitiu à equipe resolver o quebra-cabeça.
“Quando partimos para esta aventura científica, todos ficaram intrigados e ninguém tinha a menor ideia do que causou este sinal. Tudo o que sabíamos era que estava de alguma forma associado ao deslizamento de terra. Só conseguimos resolver este enigma através de um enorme esforço interdisciplinar e internacional”, afirma o autor principal, Dr. Kristian Svennevig, do Geological Survey of Denmark and Greenland (GEUS).
A equipe estimou que 25 milhões de metros cúbicos de rocha e gelo caíram no fiorde (o suficiente para encher 10.000 piscinas olímpicas). Eles confirmaram o tamanho do tsunami, um dos maiores vistos na história recente, usando simulações numéricas, bem como dados e imagens locais.
O estudo concluiu que, com a rápida aceleração das mudanças climáticas, será mais importante do que nunca caracterizar e monitorar regiões antes consideradas estáveis e fornecer alerta antecipados desses eventos massivos de deslizamentos de terra e tsunamis.
O coautor Thomas Forbriger, do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, afirmou:
“Não teríamos descoberto ou sido capazes de analisar esse evento incrível sem redes de estações sísmicas de banda larga de alta fidelidade ao redor do mundo, que são os únicos sensores que podem realmente capturar um sinal tão único.”
Por: Vida Diária/ G1
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