A armazenagem e transporte de produtos perecíveis ou não, sempre foi uma preocupação de todos os povos, visto que alimentos bem armazenados podem durar muito tempo. Nos dias hodiernos já não temos essa preocupação, pois temos as mais variadas e diferentes tipos de embalagens para transporte e muitas maneiras de se conversar alimentos e bebidas em geral. Pra nós, isso é algo natural. Mas nem sempre foi assim. Transportar e armazenar bebidas e alimentos era algo complicado de se fazer e com o vinho não era diferente.
Em tempos idos, séculos antes de Cristo, já se usava ânforas de argila para armazenamento de vários produtos, tais como: água, azeite, vinho, frutas e até moedas. O uso de barris de madeira foi registrado pelo historiador e geógrafo grego Heródoto (484-425 A.C.). O barril de madeira já era usado pelos povos da Mesopotâmia para transporte de vinhos antes de Cristo. Os barris eram confeccionados com madeira de palma e os egípcios usavam para transportar vinhos pelo rio Eufrates. Os romanos usavam ânforas de argila até que descobriram os barris de carvalho. Eles transportavam muitos produtos nas ânforas, inclusive vinho, que usavam para matar a sede em locais onde não conheciam a qualidade da água. O vinho também era usado nas batalhas, para matar a sede dos soldados e fornecer calorias no campo de batalha. Os romanos tiveram uma grande expansão em seu reinado e já usavam os barris produzidos com madeira de palma. Mas descobriram que os gauleses faziam seus barris com madeira de carvalho, muito mais flexível que a palma na hora de curvar os pedaços para confecção dos barris, além de maior resistência e durabilidade e porque era à prova d’água. Muito provavelmente, os romanos, com o passar do tempo, passaram a perceber as diferenças nos vinhos que eram armazenados em barris. E quais seriam essas diferenças? Por que o carvalho se tornou tão importantes no processo de elaboração de vinhos?
Uma barrica tradicional comporta 225 litros de vinho. É sabido que cerca de 10% do vinho se perde por evaporação ou por absorção dentro da barrica (álcool e água), em um período de um ano. Com essa perda, o vinho acaba por ficar mais concentrado em seus aromas e sabores. A barrica aporta complexidade ao vinho e permite a polimerização dos taninos, deixando-os mais macios e redondos através de ligações químicas e demais reações que acontecem ali dentro. A polimerização dos taninos acontece em função da oxigenação dentro dos barris de carvalho. O carvalho irá aportar ao vinho diferentes aromas, a depender de qual tipo de carvalho que será usado.
O carvalho francês, sem dúvida o mais conhecido, aportará aromas de tabaco, feno e especiarias, trabalhando também com uma adstringência moderada, devido à presença dos taninos da madeira, neste caso do francês, taninos suaves, elegantes. Este tipo de carvalho é conhecido como Quercus robur. Já o Quercus petraea, também francês, apresenta taninos mais suaves e em menor quantidade, aportando ao vinho aromas de baunilha e especiarias doces. Existe um controle rígido na França quanto ao corte de árvores e só podem ser considerados prontos para se usar na tanoaria, com 150 anos de idade.
O carvalho americano, o Quercus alba, proveniente também do Canadá, possui grande potencial de aromas, sendo mais acessíveis que os franceses, que chegam a custar 6 mil reais a unidade ou 850 dólares, em média. Agrega ao vinho notas mais adocicadas, tais como: baunilha, coco e manteiga. Podem ser cortados com 60 anos de idade. Custam em média 500 dólares.
Outros países europeus também produzem carvalhos de qualidade, tais como: Hungria, Romênia, Rússia e Polônia. Um carvalho bem mais conhecido no leste europeu, é o carvalho da Croácia, na região da Slavonia. É um carvalho mais é mais granuloso, que proporciona maior micro oxigenação e auxilia a integração dos diversos elementos do vinho.
Na próxima semana, darei continuidade a este assunto, falando sobre tipos de tosta no carvalho e como isso influencia no vinho, alternativos de madeira que podem ser utilizados no lugar dos barris e sobre a vida útil dos mesmos.
Vaner Benetti
Sommelier FISAR/WASET 1
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