A enciclopédia vitivinícola muitas vezes nos traz nomes que jamais vimos ou que não conseguimos entender, seja no significado ou ainda na pronúncia do vocábulo. Claro que ninguém tem a obrigação de saber todas as coisas que envolvem esse vasto universo. Nomes de uvas comumente são de origens francesas, italianas, etc. A coisa complica quando, algumas vezes, você se depara com um vinho de cepa desconhecida e de nome ainda mais difícil. E, talvez, você possa ter se deparado em algum momento com este nome: Alicante Bouschet (se pronuncia Alicante Buchê).
A Alicante é uma uva hibrida, criada no século XIX por Henri Bouschet, na famosa região francesa do Languedoc-Roussillon, na França. É um cruzamento das uvas Grenache e Petit Bouschet. É uma uva pouca conhecida no Brasil, mas muito cultivada em Portugal, onde se adaptou muito bem. É muito usada nos vinhos de corte daquele país.
Existe uma história curiosa sobre a Alicante Bouschet. Os Estados Unidos tinham grande produção desta uva no início do século XX, pois uma das características é a grande quantidade de frutos por planta. Na década de 20, com a lei seca imposta pelo Estado, a cepa era usada para fazer suco de uva. Havia grande comércio da uva em todo o país. Junto com a carga de uvas, iam instruções de como “não” permitir que a uva fosse transformada em vinho. As instruções eram assim:
1) Não deixe suas uvas acidentalmente em grandes recipientes onde elas possam ser esmagadas pelo próprio peso;
2) Se as uvas começarem a fazer bolhas dentro dos recipientes, interrompa o processo imediatamente ou ele produzirá álcool.
Na verdade, as instruções eram um manual disfarçado para que cada um produzisse seu próprio, já que o álcool era proibido pelo governo. Outra curiosidade é que poucas uvas produzem um suco de cor vermelha, e a Alicante é uma delas.
É conhecida por diferentes nomes em outros países. Na Espanha é denominada Garnacha Tintorera, ainda que a Organização da Vinha e do Vinho (OIV) não reconheça o sinônimo espanhol. Já na Croácia é chamada de Dalmatinka ou Kambusa.
Suas características são cor intensa, negra, pois é rica em antocianas, bagos e cachos igualmente grandes e sua polpa é de coloração avermelhada. Por essa cor intensa, é muito utilizada em cortes para intensificar a cor dos vinhos. É uma casta que possui taninos em destaque, proporcionando ao vinho, a possiblidade de envelhecimento, sendo vinhos de guarda. Os aromas dos vinhos produzidos com a Alicante se assemelham à canela e pimenta. É também utilizada nos cortes para corrigir a acidez em vinhos que necessitem desta correção.
Em Portugal, cerca de 5% dos vinhos daquele país, possuem Alicante em sua composição. É raro você encontrar vinhos varietais desta cepa, pois, como já disse, é mais utilizada nos cortes para dar cor, tanicidade e acidez nos vinhos. Os vinhos produzidos com ela, são gastronômicos e harmonizam bem com comidas gordurosas e carnes vermelhas. Deixo como dia, o vinho Santa Bárbara Alicante Bouschet, produzido no sul do país e com um preço em torno de 55 reais. Saúde!!!
Vaner Benetti
Sommelier FISAR/WSET 1
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