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No mundo dos vinhos existem muitos mitos e verdades. E acontece que a grande maioria dos enófilos acredita em quase tudo o que ouvem. Isso não é um grande problema, afinal, não somos obrigados a saber tudo sobre todas as coisas, principalmente, quando falamos em vinhos, pois são muitas as informações.

O que ocorre, é que a informação incorreta passada como verdade, acaba por atrapalhar a correta interpretação do que é mito ou não, deixando o consumidor acreditando em informações que atrapalham a venda de vinhos de qualidade e podem acabar por incentivar vinhos não tão bons em função de um detalhe ou outro. E são muitas as situações em que isso ocorre.

Hoje vamos falar sobre uma destas informações inúteis no mundo do vinho. Você já deve ter ouvido falar da tampa de rosca (screw cap), usadas em vários vinhos nos dias de hoje, sejam vinhos mais simples ou mais elaborados. Pois bem, muitos acreditam que a tampa de rosca é sinônimo de baixa qualidade nos vinhos. Você acredita nisso? Provavelmente sim.

 A rolha de cortiça existe desde o século 17, para vedação de vinhos. O uso da rolha é atribuído a dom Pérignon, mesmo monge francês que inventou o champanhe. Antes da rolha, o vinho era consumido fresco, por não haver um sistema de vedação eficiente. A rolha de cortiça é feita da casca de uma árvore chamada sobreiro, uma espécie de carvalho. Ocorre, que deve-se esperar entre 25 e 30 anos para se fazer as primeiras rolhas de um carvalho. E, após a primeira extração, aguardar mais 9 anos. É muito tempo e muito trabalho a ser feito. É um material nobre, pois é um tecido vegetal flexível e impermeável. A produção se concentra em Portugal, onde este tipo de carvalho é mais cultivado.

 

Até o século XIX, as rolhas eram em forma de cone, para facilitar a introdução nas garrafas. Com novas tecnologias que possibilitassem a introdução das mesmas nas garrafas, passaram a ter um formato cilíndrico. Mas além da rolha maciça, existem outros tipos de materiais usados para produção de rolhas. Vejamos:

Aglomerado: é produzida com as sobras da cortiça maciça, que são moídas e coladas. Tem preço menor, mas dura menos e tem menos elasticidade. A cola pode interferir no aroma dos vinhos.

 Rolha Sintética: Chegou ao mercado no começo dos anos 90, na tentativa de substituir a rolha de cortiça. Possuem preço inferior, mas a durabilidade e a vedação não são comprovadas. É mais usado em rótulos mais baratos e mais jovens, com expectativa de vida de poucos anos.

Twin-Top: É uma rolha que apenas as extremidades são rolhas de cortiça, mas o corpo é feito de aglomerado, que é um pó de cortiça em diferentes granulações, onde é utilizado o que resta da confecção das rolhas naturais e cola. Este material faz com a que rolha seja mais dura e com menor durabilidade.

 Já a rolha de champagne tem formato de cogumelo, com duas partes diferentes. A superior é produzida a partir de aglomerado e a inferior, elástica e maciça.

 Além destas rolhas ainda temos: T-Cork( usadas para vinhos do Porto), rolha de vidro (Vino lock), criada na República Tcheca, rolha de silicone e a Screw Cap. Esta última falaremos um pouco mais.

 

SCREW CAP: Patenteada em 1889 pelo inglês Dan Rylands, de Barnsley. Começou a ser usada para vedar garrafas de uísque em 1926. Isto ajudou a dobrar as vendas das marcas que a introduziram. Há muitos anos é usada para vedar outros produtos como: azeite, saquês, etc., é uma opção de menor custo para se vedar vinhos. Os puristas do mundo do vinho ficam enlouquecidos com isso. É feita de um material metálico com uma cobertura de plástico inerte, que impede que o vinho entre em contato com o oxigênio.

Já é largamente usada nos países do Novo Mundo, quais são: África do Sul, Argentina, Austrália, Chile, Estados Unidos, Nova Zelândia e Brasil.

Há muito tempo utilizada para vedar azeites, saquês e outros produtos, a tampa de rosca é hoje uma das opções mais cotadas para substituir a rolha de cortiça na produção de vinhos, para desgosto dos puristas.

Possui várias vantagens no uso desse tipo de vedante:

- Custo inferior;

- Fácil de manusear, facilitando a abertura da garrafa;

- É reciclável;

- A garrafa pode ser guardada de pé;

- Não corre risco de contaminação por Bouchonné, o famoso gosto de rolha, de papelão molhado, quando a rolha de cortiça é contaminada por um fungo.

Podemos ter a certeza que vinhos vedados com tampa de rosca não são inferiores, isto é, não são necessariamente de baixa qualidade, ainda que sejam mais usadas em vinhos mais simples, o que acaba gerando em muitos consumidores, a ideia de que todos os vinhos assim vedados não possuem qualidade. Diversos vinhos australianos, neozelandeses e de outros países, são vedados com screw cap e possuem ótima qualidade. Claro que, vinhos mais famosos e de guarda, são fechados com rolhas de cortiça de qualidade, seja para manter a tradição ou pela fama que o vinho possui. E também existe o aspecto financeiro, pois nem todos os produtores poderão investir em rolhas de alto preço.

Então, dizer que tampas de rosca servem apenas para vinhos inferiores é mais um mito do mundo do vinho.

 

Vaner Benetti

Sommelier Internacional FISAR

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