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Mais uma data comercial que movimenta milhões em dinheiro (só perde pro natal) e mais do que isso, que ajuda a cristalizar milhões de crenças. Uma delas é a de que um dia no ano é o suficiente pra homenagear, valorizar ou chamar a atenção pra nós, mães invisíveis.

As belas frases de efeito e jargões midiáticos são cuidadosamente selecionados e colocados nas campanhas de marketing pra nos convencer de que aquele perfume maravilhoso, aquele belo vaso de flores ou aquela batedeira nova são a verdadeira materialização de tudo o que aprendemos a acreditar: 'mãe é amor infinito’,‘ ser mãe é a maior de todas as dádivas divinas’, ‘mãe tudo suporta’, ‘mãe é heroína’, ‘mãe é força e delicadeza’, ‘mãe é esteio, é suporte, é base'.

Todos os dias, sem exceção, enquanto o mundo está pensando em levantar, fazer um xixi, tomar café e conferir as redes sociais, nosso primeiro pensamento está na cria. E muitas vezes, antes mesmo que o pensamento se forme, é a cria que já está na gente, grudada, sentindo nosso cheiro ou mamando nosso leite (e também nossa paz) enquanto estamos lutando por mais alguns minutos de sono. Mas não devia, né? ''O bebê não pode dormir com a mãe, porque afinal, como fica a vida do casal?' Aí a gente já começa a ouvir esses e outros conselhos e perguntas tão inúteis quanto irritantes: "O que ele tá fazendo ainda na sua cama? Tem que ficar no canto dele, no quarto dele, no berço dele. Mas ó, você tem que amamentar noite afora, viu? Não pode negar peito. E não pode contar com o pai pra ‘ajudar’ porque, coitado! Ele trabalha o dia todo e precisa descansar a noite. E você, mãe, tem que trabalhar fora (ou dentro) no outro dia, mas tem que dar atenção pro filho, estimular, brincar, estar presente. Não quis ser mãe? Agora aguenta".

 

Então seja onipotente.

Esteja sempre disposta, sempre disponível, sempre carinhosa, sempre agradecida e satisfeita, mesmo sem dormir, mesmo com dores no corpo por ter que levantar a noite inteira, mesmo sem ter nenhuma ajuda realmente significativa da tal 'rede de apoio' (começo a achar que isso é uma lenda que inventaram pra gente não desistir de procriar).

Seja tudo. Mas não espere ser vista. Não espere ser cuidada. Não espere ser reconhecida. Não espere holofotes. Você precisa ser tudo, mas parecer nada. Ninguém pode te notar. Maternar é abnegar, trabalho de mãe é silencioso. Ah! E trate de ficar muito feliz e transbordando gratidão com a batedeira nova que você ganhou de ''dia das mães'', com um cartão que já vem com um texto pronto e com a oportunidade de ficar o dia inteiro no fogão preparando aquele almoço delicioso pra toda a familia. Mas não se esqueça: a homenageada é você, tá?

Esse texto contém altas doses de ironia. Porque às vezes é necessário cutucar, não silenciar, 'transgredir' pra que sejamos ouvidas.

Com a maternidade fomos abençoadas, ou amaldiçoadas, com dois superpoderes: onipotência e invisibilidade.

 

Por: Vida Diária / Mariana Pêgo

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