Série Pioneirismos em Teixeira
Maria Mavanier Assis Siquara, professora desde 1970, formada na Universidade Católica de Salvador, é uma das educadoras que fizeram parte do crescimento educacional de Teixeira de Freitas. Nesse mês em que Teixeira comemora 32 anos de emancipação política, conversamos a docente para que ela nos dissesse o seu olhar sobre a educação do município.
Apesar do primeiro registro na carteira de trabalho ser de 1970, ela diz que começou a trabalhar durante a adolescência, realizando um trabalho de alfabetização de adultos no fundo de uma igreja. “Quem decidiu meu destino de ser professora foi minha mãe, somos seis irmãos e eu sou a única professora da família”, disse. Mavanier tem três filhos: Kirlian Marcel, Emmanoel Tiago e Carlos Andrei.
“Meus pais são cearenses, e eu também sou cearense de nascimento, mas parte de minha adolescência e toda a juventude eu vivi entre Alagoinhas, Salvador e Feira de Santana, por conta de estudos e por conta também de vida familiar”, contou a professora.
Ela contou como foi o processo para sua formação, as dificuldades em ir até a Universidade. “Eu saia da Boa Viagem, pegava um ônibus, não jantava, não tomava banho, não passava batom e entrava na sala da Universidade Católica de Salvador e saia dessa Universidade às 22h40min, 22h50min, pegava mais dois ônibus e chegava na minha casa 12h15” da noite.
Mavanier chegou no início da década de 80 no extremo sul da Bahia, acompanhando o marido, já que os pais dele moravam aqui (o senhor Emmanoel de Jesus Siquara e a senhora Neide Correia Siquara). Mas logo Mavanier começou a lecionar aqui também.
“No início não foi nada interessante, mas em seguida vi que havia muita coisa a fazer na região”, disse sobre a cidade. A partir daí ela procurou contribuir com a construção da cidadania na região. Em Teixeira, ela começou a lecionar na cidade no antigo colégio Ângelo Magalhães, que hoje é o Ruy Barbosa. Naquela época a área onde é o colégio pertencia a Alcobaça, pois Teixeira era povoado de Alcobaça e Caravelas. Também trabalhou no Colégio Polivalente de Caravelas, que era referência na região.
“As dificuldades para se desenvolver a educação básica e superior eram muitas, com muitas lutas da comunidade, dos professores e de estudantes que desejavam o desenvolvimento da cidade”, disse sobre a precariedade da educação na época que aqui chegou. Mas ela entende que, com o desejo da população de se construir cidadania, as coisas começaram a melhorar. “Cidadania não é um conceito, cidadania é uma construção diuturna, dia a dia”, falou.
E sobre de luta pelos direitos, Mavanier sempre esteve engajada. Ela acredita que a categoria de trabalhadores em educação precisa se reconhecer como construtores da vida digna, “não se pode esperar que o outro diga o que você deva fazer”.
A partir de 1984 ela também começou a trabalhar com a educação superior. Foi uma das primeiras professoras a trabalhar no campus X de Teixeira de Freitas, da Universidade do Estado da Bahia. A chegada da Uneb foi um marco para a região, pois iniciava aí a formação de profissionais em educação e Teixeira começava a se tornar polo educacional na região.
“A educação era muito precária, não significa que não é hoje. Mudanças já existiram: construção de novos prédios, formação de professores”, essas mudanças tem sido resultado das lutas dos educadores. “Eu vejo que as mudanças foram poucas”, as escolas e as condições de trabalho deveriam ser bem melhores.
Sobre os salários dos professores de quatro décadas atrás, Mavanier foi enfática em dizer que “a questão salarial é uma questão histórica na educação brasileira”, e acrescentou que “quando aqui cheguei era uma situação muito mais precária a vida de quem se dedicava a educação”.
Apesar dos avanços, a professora acha que ainda não há um projeto prioritário para a educação no país. Para ela, a educação não está apartada da sociedade, ela faz parte do processo histórico dessa cidade. Estamos em um momento de crise política e econômica no país, que trazem o que a professora chamou de “desastre em retrocesso”. Mas, para Mavanier, Teixeira tem condições reais de melhorar significativamente a educação. Sobre a educação superior, ela acredita que os cursos precisam de concurso para docentes e para técnicos administrativos.
A professora tem quase 5 décadas de docência e não pensa em abandonar a sala de aula. “Eu me relaciono muito bem com a educação, em termos de compromisso, paixão, comprometimento político”, falou. E finalizou dizendo que a sociedade não se transforma sem uma educação de qualidade, “sem luta nenhuma transformação virá”.
Por Vida Diária/ Petrina Nunes
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