Porque, se fosse bom nessa matéria, vendia conselhos, em vez de dá-los gratuitamente.
Ainda mais em se tratando do amor, um assunto tão, digamos, complexo e sutil como as nuvens que, num instante, estão desse lado, no outro, se perdem na imensidão azul.
No entanto, após alguma experiência e tantas leituras, sou capaz de desenvolver a questão, não sem a ajuda de dois amantes especiais.
Para o primeiro, “amar se aprende amando”; para o segundo, “nosso amor a gente inventa”. Mas vamos por partes.
Sei que o substantivo amor e o verbo amar ainda são vistos com a lente de aumento do idealismo, em detrimento da do realismo. Afinal, o amor é sentimento e amar, uma troca sentimental inter/subjetiva.
Para piorar, a religião, a política e a ideologia ajudam a idealizar o amor e a torná-lo inatingível. E mais frágil.
Quando amar – como disse Drummond – se aprende amando. Ou seja, botando a mão na massa, fazendo e acontecendo, numa troca sem trégua comigo e com o outro, consigo e com outrem.
Não pretendo negar o amor à primeira vista, mas é na prática amorosa, na troca cúmplice e no diálogo constante que o amor ganha força para seguir adiante. Movendo sol e estrelas, como queria Dante.
Porque o nobre sentimento, mulé cabeluda, não cai do céu nem dá no nosso nem no quintal alheio, de modo que precisamos cuidar muito bem dele, dando-lhe o alimento necessário, boas doses de atenção, carinho de montão, para que não enfraqueça ou, pior, morra.
Por se tratar de algo intrínseco à natureza humana, o amor precisa ser visto como invenção cultural, objeto da inspiração artística e razão de ser das teorias, mas sobretudo como sentimento.
Cazuza cantou: “O nosso amor a gente inventa e, quando acaba, a gente pensa que ele nunca existiu”.
Mas aí o poeta do rock exagerou, porque, no fundo, sempre fica alguma coisa. Uma lembrança boa ou ruim.
Porque ninguém – inclusive você, mulé cabeluda – passa incólume pela aprendizagem amorosa.
E dessa invenção – inventor versus inventado – todos saem ganhando.
Agora, mulé, vá cortar essa cabeleira!
Por: Almir Zarfeg
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