“Conta uma história muito, mas muito antiga, da qual já não muitos se recordam, nem da qual já não muitos falam, que antes de apareceram os humanos de duas patas na Terra, todas as mulheres, antes de serem mulheres foram árvores, tinham raízes que as faziam ser uma com a Mãe Terra, mãos compridas e ressecas feitas de troncos e cascas, e compridos cabelos que se cobriam de folhas, flores, frutos e pássaros que cantavam na primavera.
Estas viviam nos recantos mais belos, nutriam-se do sol, da água, do vento e nunca estavam sozinhas, pois estavam rodeadas por todas as criaturas do bosque tanto terrenas como todas as criaturas mágicas que possas imaginar. Também eram cuidadas e nutridas pela árvore mais sábia de todas, à que chamavam “Avó Árvore”, uma árvore tão mas tão antiga que conhecia todos os segredos sobre a vida e sobre a morte, e sempre que uma Mulher Árvore de qualquer lugar do mundo adoecia, comunicava com a Avó Árvore através das usas raízes para se curar.
As Mulheres Árvore tinham muitos poderes, comunicavam-se sem usar as palavras, moviam os elementos sem ter mãos e podiam sentir a todos os seres da natureza através da rede profunda que formavam com as suas raízes por debaixo da terra.” [...]
Esse trecho do conto de Ximena Hernandes, define perfeitamente pra mim, o que é ser mulher.
Houve um tempo, que sabíamos que juntas, conectadas à nossa ancestralidade, podíamos tudo. Nada poderia nos atingir, nos fazer adoecer, nos amargurar, porque tínhamos uma nas outras, a atenção, o carinho, o cuidado, o não julgamento. Juntas, unidas pela Terra, sabíamos fortes, seguras e acolhidas, assim; dávamos frutos e jazíamos na profundidade do feminino em cada uma de nós.
Eis que um dia incomodados e temidos de toda essa fortaleza, alguém disse, que não devíamos mais ser assim. E com toda força e repressão vindas das instituições tantas que nem é necessário citar, nos retiraram da Terra, promovendo assim, o distanciamento e a rivalidade. Além disso, tamanha a rudeza que fomos puxadas, que perdemos o contato com as nossas anciãs e por conseguinte, conosco.
Nos tornamos mulheres, que não se fincam mais à terra, que não possuem grandeza em suas raízes, vivendo para cumprir papéis sociais que nos distanciam ainda mais das árvores frondosas e firmes que éramos. Não nos aninhamos mais umas com as outras para aprender e reverenciar o feminino em nós. O oposto, sim, é verdade. Antes, nos julgamos, nos apontamos, exercendo com maestria o que nos impuseram, a tal rivalidade. Onde uma luta constante é travada pelo lugar de mais bela, mais sexy, mais inteligente, mais, mais, mais.
Ser mulher, nem de longe se resume a isto que nos impõem; os papéis sociais pré estabelecidos, os nossos corpos objetificados, os modelos ofertados de mãe, mulher, profissional, esposa “ideal”.
Ser mulher é antes de tudo, entender que somos muitas, e que é juntas, conectadas, quase simbióticas que podemos vivenciar o feminino que habita em nós.
Aproveita então, este dia que tanto se fala da grandeza de ser mulher, e volte a ser Árvore. Reconecte-se com o feminino em você, em todas nós. Olhe para as mulheres a sua volta como árvores frondosas que são. Olhe pra você com amor, olhe pra mulher do teu lado com amor. O seu vazio, é também o vazio dela; suas aflições, ela também senti; suas desilusões não são só sua. Olhe pro lado, você não está sozinha.
Finca suas raízes e se conecta e vai perceber que podemos sim voltar a ser bosque e com isso, nunca mais sermos sós.
Reconectar-se com o feminino também é terapêutico.
Rafhaelli Aparecida Cao
Licenciada em História (FUNCAB)
Pós-graduada em: Filosofia e Sociologia, Docência do Ensino Superior (FaSE)
Bacharel em Psicologia (Pitágoras)
Pós-graduanda em: Psicologia Sexual (FDA)
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Para saber mais:
Disponível em: https://otesourodelilith.net/2018/06/19/conto-a-mulher-arvore/
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/729-4.pdf
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