O mundo do vinho é cheio de informações as mais variadas, sejam elas verdades ou mitos. E falar a verdade no mundo do vinho é algo que pode não ser muito bem visto por vinhateiros, enólogos, enófilos e até mesmo sommeliers. Isso se dá em função de interesses financeiros ou de autopromoção. Quem me conhece, seja pela compra dos vinhos ou participação nos cursos que ministro, sabe que sempre digo o que penso, desfazendo muitos mitos que existem nas cabeças das pessoas e no universo do liquido tinto mais apreciado do mundo. Alguns torcem o nariz, outros procuram entender o que de fato é realidade e o que é fantasia. E penso que um dos mitos ainda existente nas cabeças de algumas pessoas é de que o Brasil não tem qualidade na produção de vinhos. Que não produzimos vinhos de guarda. E que tudo o que é bom vem de fora. É a síndrome ou complexo de vira-latas, quando nos inferiorizamos diante do mundo e desvalorizamos o que é nosso. E nós, os brasileiros, temos esta doença arraigada em nossas mentes.
Uma das situações em que isso acontece é quando falamos de vinhos brasileiros. Acreditem que em pleno século XXI, ainda há profissionais e “especialistas” que apregoam aos quatro ventos que o Brasil não produz com excelência. Até compreendo que neste meio isso venha a acontecer, pois se eu comercializasse apenas vinhos importados, seria melhor falar mal dos nossos vinhos para que pudesse vender aquilo que tenho em mãos. Mas, ainda assim, com essa argumentação, não acho isso nada positivo. Não é diminuindo o produto do outro que o seu terá mais qualidade. Se eu quero que meu produto tenha saída, preciso investir nele. Ele terá destaque pelo alto padrão que busco colocar nele. Isso é o mais importante. E o Brasil tem vinhos espetaculares para degustarmos. Essa qualidade eu vi pessoalmente nas vinícolas do sul do país, refletida na tecnologia usada na produção e no produto final. E o mais interessante é quando vejo críticos internacionais elogiando nossos vinhos e espumantes, ao passo que os brasileiros o diminuem.
Trazendo isso para o mundo dos consumidores, a situação se agiganta ainda mais, seja pelo preconceito ou mesmo pela falta de conhecimento sobre o que temos no país. Tenho muitos clientes que só bebiam vinhos importados, com ênfase nos chilenos, argentinos, franceses e portugueses. É claro que, muitas pessoas só conhecem esses vinhos, face ao preconceito e porque não se veem muitos produtos brasileiros nas adegas especializadas ou mesmo em supermercados. E, sejamos sinceros, quando há produtos, são de baixa qualidade mesmo, pois estas redes não querem investir em vinhos de qualidade, portanto, com preço mais elevados, em suas prateleiras. E isso acontece porque o brasileiro não conhece o nosso produto. E ninguém quer ver produtos parados em suas gôndolas. Um outro motivo não menos importante, é o fato de que a maioria das nossas vinícolas não possuem marketing eficaz ou dinheiro para investir nisto. São poucas aquelas que possuem aporte financeiro para investir em propaganda. Assim, as pequenas vinícolas, a maioria, ficam obscurecidas. Dependem muito do turismo para que as pessoas as visitem e conheçam seus vinhos.
Tenho procurado enfatizar o vinho nacional, não porque o vendo, mas em função da sua qualidade. E por esse motivo os comercializo. Como disse antes, muitos clientes só bebiam vinhos importados, mas ao conhecer vinhos que os apresentei, sendo de safras 2004, 2005, 2007 e outros mais, se surpreenderam positivamente, pois não acreditavam que tivéssemos produtos tão bons. Quando ministro cursos e coloco estes vinhos em degustações às cegas, sempre pergunto sobre de onde pensam ser estes vinhos. A resposta sempre é: Itália e França ou mesmo Portugal. Quando revelo o vinho dizendo ser nacional, as pessoas ficam maravilhadas e seu conceito muda. Hoje tenho clientes que só consomem nossos vinhos, como fazem os franceses, italianos e portugueses, enfatizando sempre seu próprio produto. Precisamos aprender com eles. Convido você a conhecer a abrir sua mente, quebrar preconceitos e paradigmas e oportunizar o nosso vinho. Afirmo, sem qualquer receio, que você ficará surpreso com o que degustará. Não estou dizendo que não deve beber um vinho importado, pois experimentar é a palavra quando falamos de vinhos, mas, dê preferência ao vinho brasileiro, conheça as vinícolas, deguste quando tiver oportunidade e aí entenderá o que estou dizendo. Vamos acabar com esse preconceito e com esse complexo. Somos brasileiros. Temos grandes e espetaculares vinhos. Viva o vinho brasileiro!!!
Vaner Benetti
Sommelier FISAR/WSET 1
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