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Estamos chegando mais uma vez ao fim de um mês, o mês de junho, com o início do inverno e o fim do primeiro semestre. Essa época é ainda melhor para o consumo do vinho, em especial o tinto, pois o frio do inverno nos convida às taças. Pensando sobre o que escrever para finalizar o semestre, me veio à mente um vinho ainda pouco conhecido pelo público em geral, o vinho laranja. Não, este vinho não é produzido com laranjas, pois como expliquei aqui antes, vinho é feito de uvas e tão somente de uvas. No mundo vitivinícola sempre aparecem novidades e modismos, que muitas vezes desaparecem tão rápido quanto seu surgimento. Mas algumas coisas acabam ficando. Creio que o vinho laranja é um exemplo disso. Amado por uns e odiado por outros, vamos aprender um pouco sobre ele.

 

O vinho laranja, ou âmbar, como gostam de chamar assim os que o produzem, teve sua alcunha em 2004, quando um importador inglês assim o chamou. O que define o vinho como laranja é a sua forma de vinificação, que se assemelha à técnica usada para os tintos, quando o suco extraído das uvas brancas fica em contato com a casca durante um período, adquirindo assim a cor laranja ou âmbar. Essa cor é oriunda de polifenóis existentes na casca da uva.  A descrição deste vinho caminha por termos como “viscoso” ao invés de vinhos densos ou de um bom corpo.

Essa metodologia de vinificação é oriunda da Geórgia, há cerca de 8 mil anos atrás, quando as uvas eram colhidas sobre maturadas e colocadas em cachos inteiros, inclusive com o engaço, em ânforas de terracota (chamados de Kvevris), em formato de ovo e revestidas internamente com uma resina (cera de abelha), que eram enterradas no solo para manutenção de uma temperatura mais baixa. Essa baixa temperatura faz com que o processo de fermentação se torne muito mais lento e pode ser de semanas ou meses. Claro que isso vai depender das cepas selecionadas, do recipiente usado e daquilo que o enólogo deseja produzir.

 

Essa metodologia de produção foi resgatada no início deste século pelo polêmico e controverso enólogo, Josko Gravner, conhecido como o “papa” dos vinhos laranjas.  Reside no extremo norte da Itália, quase fronteira com a Eslovênia, onde tem metade dos seus vinhedos de Ribolla Gialla, Chardonnay e Pignolo, esta última rica em taninos. Prefere que seus vinhos sejam chamados de âmbar. Diz: “Meu vinho é âmbar. Vinho laranja é vinho estragado.” “O vinho é uma questão de filosofia e não de enologia”, acredita Gravner.

 

O vinho laranja é caracterizado, além da cor, pela acidez latente, frescor, presença de taninos, pois há contato com a casca, perfume transbordante, elegância e sabor marcante. Também é característica marcante destes vinhos, o preço, que chegam fácil a 300 reais ou mais. A temperatura ideal para consumo é de 7 a 12º graus para vinhos laranjas mais leves entre 12 e 14º para vinhos mais estruturados, com maceração mais longa. Pode ser harmonizado com massas, peixes como atum e salmão, cordeiro e ainda com uma bela Paella. Quando tiver a oportunidade, deguste um vinho laranja e tire suas próprias conclusões. Bom inverno e ótimos vinhos a todos!!!

 

Vaner Benetti

Sommelier FISAR

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