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Série Pioneirismos em Teixeira



Domingos Cajueiro Correia, nascido em 11 de abril de 1954 em Teixeira de Freitas, guarda as memórias daqueles que foram os desbravadores da cidade. Teixeira completa 32 anos de emancipação política comemorados no próximo dia 09 de maio. Vamos relembrar histórias pelo olhar de Cajueiro, das primeiras ruas e estradas sendo abertas. Cajueiro é filho do senhor Isael de Freitas Correia e da senhora Maria de Lourdes Cajueiro Correia. O seu pai chegou em Teixeira em 1922. Com seis anos de idade foi para Alcobaça aprender as quatro operações e a ler e escrever. Ele lembra da época, em sua infância, que a localidade onde hoje é a Praça dos Leões tinha apenas quatro casinhas de palha que pertenciam ao senhor Manuel de Etelvina. Localidade considerada por ele o marco zero da cidade, onde tudo começou.

Os nomes de Teixeira

O nome ‘Comércio dos Pretos’ dado a Teixeira de Freitas foi por conta dos primeiros negros que aqui habitavam. Ermenegildo Félix Almeida e Júlio José de Oliveira eram dois dos primeiros proprietários da região, ambos negros. A fazenda Japira, muito próspera na época, também era habitada por negros descendentes de escravos. O nome ‘Mandiocal’ foi por conta do grande número de plantações de mandioca. O senhor Manuel de Etelvina foi um dos que mais cultivaram e faziam os derivados da mandioca. ‘Arrepiado’ foi outro nome que Teixeira teve, esse era por conta das casas feitas de palha. “Quando o sol esquentava a palha, arrepiava, aí botou o nome de Arrepiado”, contou. Algumas das casinhas de palha que existiam nessa localidade eram de descendentes de escravos. “Esse pessoal falava embolado, usava short e acampavam naquele local”, disse. ‘Perna Aberta’ foi o nome dado quando Eleuzibio Cunha fez uma rua que iniciava onde hoje é a Casas Barbosa até a Fazenda Cascata. Em 1957, pela resolução de número 91 do Governo Estadual, o prefeito de Alcobaça, Manuel Euclides de Medeiros, decidiu que o nome do povoado deveria ser São José do Rio Itanhém.

A artéria de Teixeira

O rio Itanhém “que foi a artéria de Teixeira de Freitas” por muito tempo foi a principal passagem da cidade para outras região. Um explorador alemão, o Maximiliano, conseguiu percorrer os caminhos desde a nascente até o ponto em que ele desaguava no rio, e viu como era construída a cultura, fauna e flora das regiões ribeis. “Isso aqui era tudo mata, para se locomover na cidade na época, só através do rio Itanhém que tinha nome de Rio Alcobaça”, lembrou Cajueiro. O que era produzido aqui, como feijão, café e cacau, era levado por canoas até Alcobaça.

Teixeira começa a abrir estradas

“Em 1950 foi construída a estrada ligando Alcobaça a Cascata. Essa estrada foi feita pelo instituto do Cacau que ficava em Alcobaça”, depois Quinca Neto construiu uma estrada até Caravelas, feita de forma manual, desviando dos córregos. Em 1964 o Derba veio para Teixeira e o pai de Cajueiro vendeu uma parte da terra que ele tinha em Teixeira para o senhor Manuel Cardoso Neto (Nelito), que foi um líder político da época. O governador Lomanto Junior achou o espaço muito pequeno e depois comprou outros pedaços de terra do senhor Isael, onde formaram os bairros Caminho do Mar, Mirante do Rio, Monte Castelo, Ipiranga e Jerusalém. Teixeira, então, começou a progredir com a chegada do Derba. A terraplanagem da BR 101 iniciou na década de 70, e em 22 de abril 1983 ela foi inaugurada pelo coronel Mário David Andreazza, Ministro dos Transportes da época. Essa BR tinha o intuito de ligar Vitória (ES) a Salvador (BA) e isso foi um marco para a história da cidade.

Quando estava abrindo a BR, nos anos de 75 a 76, muitos capixabas vieram para Teixeira para implantação de serrarias. Cajueiro relata que trabalhou na Serraria Vitória, referência na região, que tinha um grande número de cargas saindo diariamente da cidade. Em 1º de outubro de 1979 ele foi chamado para trabalhar na Polícia Rodoviária Federal, onde está até hoje. Nesse ano [1979] as serrarias também já estavam começando a fechar e sair da região.

Extração de pedras preciosas

Na lavra, próximo a Santo Antônio, geralmente a extração de pedras preciosas era feita por pessoas de Teófilo Otoni. “O pessoal vinha de lá, norte e sul de Minas e daqui também, para poder ir na lavra de Juerana”, como ponto de passagem, eles se hospedavam na Fazenda Nova América, da família de Cajueiro, e da fazenda seguiam viagem até os ponto de extração.

Mata Atlântica

Teixeira era uma região riquíssima em fauna e flora até a chegada das serrarias. “Aqui tinha pássaros, macacos, onça pintada, suçuarana, jaguatirica, todos os tipos de animais”. 1975 em diante começa a chegar o eucalipto e a Mata Atlântica acabou. Os córregos também secaram, pântanos desapareceram e os animais também. “O córrego da Biquinha se chamava Córrego da Preguiça, porque ao longo de suas margens tinha muita preguiça”. Em 1960, montaram uma charqueada lá e começaram a chamar aquele lugar de Córrego da Charqueada.

Curiosidades

Teve um fato histórico em Teixeira que não é muito comentado, quando o Governador Antônio Carlos Magalhães em 1972, despachou com todo o seu secretariado em Teixeira de Freitas, fazendo, do povoado na época, por 48 horas, a capital do Estado. Luiz Gozanga, ‘O rei do baião’, esteve em 1964 em Teixeira de Freitas, no cinema (que era tocado por gerador) construído pelo senhor Militão Guerra, e disse que “Teixeira estava condenada a ser uma grande metrópole no sul da Bahia”.

As parteiras

A mãe de Cajueiro foi a primeira parteira da cidade junto com ‘Dona Ana de Torquato’. “Elas não mediam as dificuldades para atender as mulheres que estavam com dores, grávidas, que não tinham condições de sair daqui para Medeiros Neto ou para Caravelas. Então elas [as parteiras] saiam a pé ou montadas a cavalo, pois era tudo mata, enfrentando as adversidades”, disse o policial. Com essa habilidade, essas duas mulheres salvaram muitas grávidas e crianças. A mãe dele também chegou a ajudar a dar banho e tratar os mortos.

Os cemitérios

Os cemitérios que tinham aqui eram no Arriba Saia ou na fazenda de Dona Cecília (Fazenda Sergipina). Também teve um cemitério onde hoje é a Rua Maua. As casas foram construídas em cima dos corpos que foram soterrados. Foi o senhor Pedro Guerra e Goducha (Glodoaldo Amaral) que construíram o cemitério que ainda existe na Avenida São Paulo.

O transporte público

A primeira empresa de ônibus foi a Vale do Rio Itanhém, de Durval Azevedo, entre os anos de 50 e 60, que vazia o transporte de Teixeira a Medeiros Neto. Em Medeiros Neto, Durval também tinha a empresa Piraji que vazia o translado segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira para Caravelas, Alcobaça e Eunápolis, e terça-feira, quinta-feira e sábado voltavam. Muitas vezes os carros ficavam atolados em Barro Vermelho, próximo a Alcobaça. Já o primeiro ônibus coletivo em Teixeira se chamava Faixa Preta.

Como estão as estradas hoje?

Sobre a BR 101, Cajueiro diz que “hoje a demanda é muito grande, a estrada deveria ter opção para os veículos, a estrada é muito sinuosa, principalmente daqui até Itabuna”. A BR 101 foi projetada para um número de veículos e hoje esse número triplicou. Ele ainda conta que, com a chegada do Samu, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, melhorou muito o socorro nas estradas.


Por Vida Diária/ Petrina Nunes

Fotos: Nadson Camargo e Mirian Ferreira

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