Depois de um ano difícil por causa da pandemia de covid-19, que gerou impacto negativo no orçamento de milhares de famílias brasileiras, a virada para 2021 traz esperança de que tempos melhores virão. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil mostram que é possível colocar a vida financeira em ordem e passar do vermelho para o azul, de modo a ter uma vida financeira saudável.
Para o diretor de Operações da Simplic, João Figueira, a resposta para essa questão é o planejamento, que em um momento de pandemia não é algo fácil, principalmente porque os brasileiros não costumam ter disciplina no controle do que ganham e gastam. Segundo Figueira, isso não é algo tão complexo de ser feito, já que há ferramentas online, até mesmo as planilhas do Excel.
"Na parte dos gastos, habitualmente as pessoas começam pelas despesas fixas que são mais fáceis de controlar, como água, eletricidade, aluguel, transporte. O que vemos as pessoas falharem é não colocar aquelas despesas que não acontecem de forma recorrente, como o IPTU e IPVA, que vêm agora em janeiro".
Figueira destaca que é preciso estar atento ao dia de vencimento das despesas, ou seja, é preciso que essa data esteja de acordo com o dia em que se costuma ter o rendimento. "É muito comum ver pessoas que recebem no último dia do mês e colocam suas despesas com vencimento para o dia 20, por exemplo. O problema é que você está tendo a despesa dez dias antes de ter o rendimento, e aí dez dias de juros são pagos sem necessidade", diz.
Ele ressalta que o primeiro passo é conhecer bem a dívida, verificando nos órgãos de proteção ao crédito e falando direto com os credores, sejam bancos, cartões de crédito ou lojas onde tenham sido feitas compras parceladas, para renegociar, prática comum no mercado e que é benéfica para as duas partes.
"Ligar e perguntar quanto você está devendo e, mais do que isso, entender o detalhe dessa divida: quanto você estava devendo originalmente e quanto contabilizou de juros posteriormente. Saber essa diferença é importante porque permite fazer uma renegociação bem-sucedida. É preciso ter uma conversa franca com o credor para adequar o pagamento ao seu planejamento", afirmou.
A criadora do Finanças Femininas, Carol Sandler, completou que é preciso fazer uma autoanálise das finanças, usando como base as faturas e extratos dos últimos três meses, olhando linha por linha e separando o que é essencial e o que são pagamentos de parcelas de dívidas e também o dinheiro que eventualmente conseguiu guardar. A partir disso, basta analisar as proporções do que é gasto com cada categoria e comparar com o que seria o ideal.
"Se a pessoa está endividada, existe uma proporção ideal para isso, que é 50% para bancar os essenciais, 20% os supérfluos e 30% o pagamento das parcelas das dívidas. Para quem não está endividado, a proporção muda para 50% para os essenciais, 30% para supérfluos e 20% para guardar todo mês. Não dá para sonhar com atingir o mundo ideal do dia para a noite, mas é importante fazer esse exercício para ver qual é a sua realidade financeira agora e começar a entender o que é preciso fazer", explicou.
Para quem está muito endividado, a dica é listar todas as dívidas e verificar se o gasto com elas é muito maior do que os 30% ideais. Se isso ocorre, o melhor é fazer a renegociação, mostrando que o percentual da renda mensal comprometida é maior do que o possível e, assim, insustentável. "A partir daí, deve-se questionar o credor sobre a melhor negociação possível para ficar com uma dívida capaz de ser paga. O que o credor mais quer ver é sua intenção de pagar a dívida".
Carol lembrou que ao olhar os juros é fácil perceber quais são as dívidas que devem ser pagar primeiro. Geralmente são as de cartão de crédito e cheque especial, porque são as mais caras, com juros maiores. "Sempre priorizamos o que tem os juros maiores, porque são as dívidas que crescem mais rápido e que acabam se tornando as mais caras. Em alguns casos, se a taxa de juros de um empréstimo for mais baixa do que a da dívida, vale a pena pegar o empréstimo para pagar a dívida".
Outro detalhe a observar para manter as contas no azul são as tentações que aparecem a todo tempo e que levam ao consumo desnecessário. Segundo Carol, o maior vilão do endividamento é o cartão de crédito, que dá a falsa ideia de que que temos dinheiro sobrando. "Essa dívida é baseada na desorganização, no descontrole, no impulso. Então, o que eu sugiro é que a pessoa, pare e olhe como ela está gastando esse dinheiro, porque fazendo esse exercício de ver quanto se gasta com supérfluos, é possível identificar onde há um problema".
Ela ensina ainda truques como antes de fazer qualquer compra por impulso, tirar dez minutos para pensar em outra coisa, mudando o foco, fazendo outra atividade. Depois desses dez minutos, analisar se ainda se lembra do que estava prestes a comprar. Outra ideia é anotar todos os impulsos que tem, sempre que der vontade de comprar alguma coisa, para depois analisar se há dinheiro para comprar aquilo ou não.
"O que eu vejo é que os impulsos vêm e nem sempre eles correspondem ao desejo real da pessoa. Você compra uma coisa pela internet e quando chega, a pessoa nem lembrava que havia pedido aquilo e acaba ficando largado em casa. Às vezes, só dar distância para controlar o impulso, ver se realmente quer aquele produto, já pode impactar muito", afirmou.
Outra dica é desfazer a inscrição em e-mails marketing de lojas nas quais se costuma comprar, parar de seguir marcas nas redes sociais, além de influenciadores que fazem com que se gaste mais, e assim criar um ambiente onde não fique tão exposto a desejos de consumo.
Por: Vida Diária/Agencia Brasil
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