A diferença tem impacto no bolso do consumidor baiano e é criticada por opositores da privatização das refinarias da Petrobras, mas vista por outros agentes do mercado como um reforço na percepção de que a estatal vem segurando os repasses da alta no mercado internacional.
A Acelen, veículo do fundo árabe Mubadala que opera a refinaria, diz que gasolina e diesel são commodities internacionais cujos preços variam conforme as cotações do petróleo e a variação do dólar e que tem critérios “claros e transparentes” de reajustes.
Localizada em São Francisco do Conde (BA), a refinaria de Mataripe foi comprada pelo Mubadala por US$ 1,65 bilhão (R$ 8,7 bilhões, pela cotação atual), a maior operação já concluída dentro do programa de redução da participação estatal no parque de refino.
Em janeiro, enquanto a Petrobras promoveu um reajuste em seu preço de venda do combustível, no dia 11, a Acelen anunciou três aumentos, nos dias 1º, 15 e 22.
Percebemos que os reajustes da Acelen acontecem com uma frequência maior do que a da Petrobras e, como ela tem acompanhado a variação internacional, acaba causando desequilíbrio no mercado”, diz Walter Tannus, presidente do Sindcombustíveis-BA, que representa os postos do estado.
Ele afirma que os postos de gasolina próximos a divisas com outros estados reclamam perda de 40% a 50% nas vendas, já que os consumidores têm preferido viajar para encher o tanque com gasolina mais barata em estados vizinhos.
Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) mostram que a gasolina nos postos da Bahia ficou 3% mais cara em janeiro, enquanto na média nacional o aumento foi de 0,9%.
Na última semana de janeiro, o preço médio da gasolina no estado ultrapassou a barreira dos R$ 7 por litro, chegando a R$ 7,024. Além da Bahia, quatro estados tinham preço médio acima desse patamar no mesmo período: Acre, Goiás, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.
Os três primeiros ficam longe de refinarias de grande porte e o último tem a maior alíquota de ICMS sobre o combustível do país.
Em nota enviada à Folha, a Acelen diz que sua política de preços “é independente e distinta da política comercial praticada pela gestão anterior”.
“A Acelen segue parâmetros internacionais de preços e por esse motivo está sujeita às variações do mercado mundial de petróleo e da oscilação cambial”, afirma.
A empresa destaca que o preço do petróleo teve forte valorização em 2021. Entre o último dia de dezembro e esta sexta-feira (4), o petróleo Brent, negociado em Londres, teve alta de 20%, chegando a superar os US$ 93 durante o pregão.
Para executivos do setor, a empresa cria um novo parâmetro de comparação de preços dos combustíveis no país, já que tem acompanhado as variações internacionais mais de perto do que a Petrobras.
Segundo dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), a Bahia tem hoje a menor defasagem em relação ao preço de paridade de importação da gasolina, conceito que simula quanto custaria para importar o combustível e é a base da política comercial da estatal.
No porto de Aratu, porta de entrada para combustíveis no estado, diz a Abicom, a defasagem era de R$ 0,09 por litro na quinta. Na média nacional, a gasolina estava sendo vendida no país R$ 0,26 por litro abaixo da paridade de importação.
Os importadores reclamam que a Petrobras tem segurado repasses da escalada do preço do petróleo, dificultando importações dos combustíveis por empresas privadas.
O Observatório Social da Petrobras diz que a série histórica da estatal mostra que a refinaria da Bahia, antes chamada refinaria Landulpho Alves, vendia gasolina e diesel com preços abaixo da média nacional.
Passou a vender mais caro após a privatização, o que vem sendo usado como argumento contra a venda das refinarias da Petrobras.
“O que está acontecendo hoje na Bahia é o que ocorrerá com todas as outras refinarias que porventura sejam privatizadas”, diz Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais e do observatório, que é ligado a sindicatos de petroleiros.
“A empresa compradora passará a cobrar preços ainda mais elevados do que já pagamos hoje”, afirma. A outra refinaria já vendida pela Petrobras, em Manaus, permanece sob operação da estatal.
“A Acelen está focada em manter os seus produtos com preços competitivos para cumprir, com excelência e sustentabilidade, os contratos firmados com
os clientes”, afirma.
“Os cálculos de reajuste de preços são executados a partir de fórmula paramétrica que define os valores dos produtos seguindo parâmetros do mercado internacional.”
Em resposta às críticas a sua política de preços, a Petrobras defende o alinhamento às cotações internacionais como fundamental para atrair investimentos e garantir o abastecimento, mas diz que não repassa momentos de grande volatilidade para o consumidor brasileiro.
Por: Vida Diária/A Folha
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notácia, democrática e respeitosamente. Para utilizá-lo, você deve estar logado no Facebook. Comentários anônimos (perfis falsos ou não) ou que firam leis, princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas podem ser excluídos caso haja denúncia ou sejam detectados pelo site. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, entre outros, podem ser excluídos sem prévio aviso. Caso haja necessidade, também impediremos de comentar novamente neste site os perfis que tiveram comentários excluídos por qualquer motivo. Comentários com links serão sumariamente excluídos.